29 outubro, 2008

Solidões particulares






SOLIDÕES PARTICULARES
Luiz Gilberto de Barros

Tu te esqueces facilmente que me amas
E te ausentas sem adeuses, sem contatos;
Não te excitas, não conversas... não reclamas
E eu... sozinho... observando teus retratos.

Tu te aqueces no verão que tu recrias,
Mas o gelo triste do teu coração
Torna tuas solidões muito mais frias
E te envolve mais em cada solidão.

Nem te amas... tu apenas silencias,
Procurando um barco nas ondas do mar;
Teu amor navega mares de utopias,
Onde o sonho sempre insiste em naufragar.

Solitário, eu preparo o meu navio,
Solto as velas, crio sonhos imprudentes,
Mas o mar do meu olhar é tão vazio;
Só navego a emoção que tu nem sentes.

Meu amor enfraquecido, enfim, se prostra
E desmaia num sonho particular
Quando o sonho que tu tens nunca se mostra
E é no sonho que o amor quer se abrigar.

Silenciosa, tu caminhas pela sala
Meu olhar segue teus passos...sem destino
Como um barco de papel que o vento embala...
Sob os olhos delicados... de um menino.

Receosos, nossos gestos egoístas
Se restringem ao silêncio de uma dor
Que transforma nossos sonhos... pessimistas
Na arbitrária solidão do mesmo amor.




26 outubro, 2008

O que valeu a pena hoje?



O que valeu a pena hoje?

Sempre tem alguma coisa. Um telefonema. Um filme... Paulo Mendes Campos, em uma de suas crônicas reunidas no livro 'O Amor Acaba', diz que devemos nos empenhar em não deixar o dia partir inutilmente.
Eu tenho, há anos, isso como lema.

É pieguice, mas antes de dormir, quando o dia que passou está dando o prefixo e saindo do ar, eu penso: o que valeu a pena hoje? Sempre tem alguma coisa.
Uma proposta de trabalho. Um telefonema. Um filme. Um corte de cabelo que deu certo.

Até uma briga pode ter sido útil, caso tenha iluminado o que andava escuro dentro da gente.
Já para algumas pessoas, ganhar o dia é ganhar mesmo:
ganhar um aumento, ganhar na loteria, ganhar um pedido de casamento, ganhar uma licitação, ganhar uma partida.

Mas para quem valoriza apenas as mega vitórias, sobram centenas de outros dias em que, aparentemente, nada acontece, e geralmente são essas pessoas que vivem dizendo que a vida não é boa, e seguem cultivando sua angústia existencial com carinho e uísque, mesmo já tendo seu super apartamento, sua bela esposa, seu carro do ano e um salário aditivado.

Nas últimas semanas, meus dias foram salvos por detalhes.

Uma segunda-feira valeu por um programa de rádio que fez um tributo aos Beatles e que me arrepiou, me transportou para uma época legal da vida, me
fez querer dividir aquele momento com pessoas que são importantes pra mim.

Na terça, meu dia não foi em vão porque uma pessoa que amo muito recebeu um diagnóstico positivo de uma doença que poderia ser mais séria.

Na quarta, o dia foi ganho porque o aluno de uma escola me pediu para tirar uma foto com ele.

Na quinta, uma amiga que eu não via há meses ligou me convidando para almoçar.

Na sexta, o dia não partiu inutilmente, só por causa de um cachorro-quente.
E assim correm os dias, presenteando a gente com uma música, um crepúsculo, um instante especial que acaba compensando 24 horas banais.

Claro que tem dias que não servem pra nada, dias em que ninguém nos surpreende, o trabalho não rende e as horas se arrastam melancólicas, sem falar naqueles dias em que tudo dá errado:
batemos o carro, perdemos um cliente e o encontro da noite é desmarcado.

Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar um dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica.

É muita condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de amanhã...

* Martha Medeiros*

21 outubro, 2008

POET... ART





POET... ART
Luiz Gilberto de Barros

Só se é poeta quando os sentimentos
Soltam-se no vento lírico do amor
E passeiam livres pelo pensamento
Procurando alento até na própria dor...

Mas não te iludas, busca aprimorar-te
Reconstrói com arte o teu entendimento,
Se o teu momento é filho da arte,
Ele é mais que parte do teu sentimento.

Só se é poeta quando a alegria
Se dilui na dor da lágrima que escorre
E a voz do amor então se pronuncia
Na metamorfose gráfica que ocorre...

Quando a poesia solta-se, revela
Como numa tela, o jeito do pintor,
Mas se a tinta errada suja a aquarela,
Ela denuncia o lapso do autor.

Queres ser poeta ? Que a palavra flua
Como uma canção, um riso, uma saudade
E que a emoção inteira se dilua
Na luz seminua da tua verdade.

Como se o sangue diluído em pranto
Fosse um novo canto celebrando a vida,
E o teu amor, em notas de acalanto,
Roubasse do pranto a dor mais atrevida...

Queres ser poeta, escreve, realiza
Vamos ! Suaviza tua intenção,
De fazer brotar na página mais lisa
A flor mais precisa do teu coração.





Pessoas Interessantes tem falhas, por Martha Medeiros


Uma das coisas que fascinam na cidade de San Francisco é ela estar
localizada sobre a falha de San Andreas, que provoca pequenos abalos
sísmicos de vez em quando e grandes terremotos de tempos em tempos. Você
está muito faceiro caminhando pela cidade, e de uma hora para outra pode
perder o chão, Ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco
provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a
possibilidade, e isso amedronta, mas, ao mesmo tempo excita,vai dizer que
não?

Assim também são as pessoas interessantes: TÊM FALHAS.
Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, onde tudo
funciona e você quase morre de tédio. Pessoas, como cidades, não precisam
ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no
rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize.
Pessoas, como cidades, precisam ser limpas, mas, não ao ponto de não
possuírem máculas. É preciso suar na hora do cansaço, é preciso ter um
cheiro próprio, uma camiseta velha para dormir, um jeans quase transparente
de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo,
um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou.

Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis.
DE VEZ EM QUANDO, sem abusar muito da licença, devem ser INSENSATAS,
ligeiramente PASSIONAIS, demonstrar CERTO DESATINO, ir contra alguns
prognósticos, COMETER ERROS de julgamento e pedir desculpas depois, PEDIR
DESCULPAS SEMPRE, para poder ter crédito e errar outra vez.
Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa
necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas
e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar, porém não devemos
deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem
provocar.

Nunca deve-se deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades,
têm RACHADURAS INTERNAS, portanto podem surpreender.Falhas. Agradeça as
suas, que é o que HUMANIZA você, e nos FASCINA!


Vida! ensina-me....



Vida! ensina-me.....

A entender os delitos do coração
A decifrar o futuro cego da ilusão
A conviver com a insanidade dos sonhos
A acreditar na castidade das fantasias
A desmistificar o ser, sem o lirismo
da deusa poesia
A atravessar o rio da tristeza
A fechar as pálpebras do medo
A sacralizar a hóstia dos segredos
A furar os olhos da saudade
A aceitar o beijo amargo da verdade
A sorrir com o sorriso das flores
A degustar o cálice da dor
A solfejar o hino do amor
A driblar as fadigas do tempo
A não perenizar os pensamentos
A enxugar o orvalho do chorar,
por não mais suportar as
delinqüências da alma

Zena Maciel




12 outubro, 2008

EPOPÉIA EM 5 PALAVRAS, 4 LÍNGUAS, 3 VERSOS, 2 TEMPOS E 1 COMPLEXO DE ÉDIPO





Mãenhã lastmosa

Me acœurdou

Liebedinosa




Israel Augusto Moraes de Castro



Juras de Amor





Juras de Amor

Juro pelos Girassóis de Van Gogh
Pelos Relógios Moles de Salvador Dali
Pelos versos de Fernando Pessoa
Pela Estátua de Davi

Juro pela Odisséia de Homero
Pelo Édipo Rei de Sófocles
Pelas Sinfonias de Beethoven
Pela sapiência de Sócrates

Juro pelo Dom Quixote de Cervantes
Pela Mona Lisa de Leonardo da Vinci
Juro pela Divina Comédia de Dante

Juro por tudo em que me ufano
Pela sabedoria de Confúcio
Juro por Deus que te amo!

Cosme Custódio


09 outubro, 2008

Quase acreditei






Quase acreditei que não era nada ao me tratarem como nada.

Quase acreditei, que não seria capaz quando não me chamavam,
por acharem que eu não era capaz.

Quase acreditei que não sabia quando não me perguntavam
por acharem que eu não sabia.

Quase acreditei ser diferente entre tantos iguais, entre tantos capazes e sabidos, entre tantos que eram chamados e escolhidos.

Quase acreditei estar de fora quando me deixavam de fora porque...
Que falta fazia?

E, de quase acreditar, adoeci

Busquei ajuda com doutores, mestres, magos e querubins.

Procurei a cura em toda parte e ela estava tão perto de mim.

Me ensinaram a olhar para dentro de mim mesmo e perceber que sou exatamente, como os iguais que me faziam diferente.

E acreditei profundamente em mim.

E tenho como dívida com a vida fazer com que cada ser humano se perceba,
se ame, se admire, como verdadeira fonte de riqueza.

Foi assim que cresci: acreditando!

Sou exatamente do tamanho de todo ser humano.
E, por acreditar perdi o medo de dizer, de falar, participar, e até de cometer enganos.

E, se errar?
Paciência.
Continuo vivendo por isso aprendendo.

Errar é humano!


Desconheço a autoria

08 outubro, 2008

ME DEIXE SER







ME DEIXE SER



me deixe ser teu amor
a fogueira que te aquece
e o canto que adormece

me deixe ser o teu lar
como um ninho
na beira do caminho

me deixe ser teu farol
te iluminar distraida
por toda a tua vida...

me deixe ser,
apenas ao teu lado
o ser amado...


mariza Alencastro((£una))


Mãos Atadas, por Zena Maciel




Não devo..
Não posso...
Calar a voz do coração
Desatar as mãos
Ferir o brilho do olhar
Ocultar a dor
Esquecer que existe o amor
Quebrar uma fantasia
Amordaçar a alegria
Voar nas asas do vento
Vigiar o pensamento
Liquidificar as lembranças
Voltar a ser criança
Matar a saudade
Destilar pequenas crueldades
Secar uma lágrima
Naufragar os sofrimentos
Deixar a tristeza ao relento
Amarrar os sonhos
Ser prisioneira do tempo
Abri o relicário dos segredos
Assassinar o medo
Morrer antes da hora!






Aproveite bem as suas mão livres!!!


Janela sôbre o mar






Janela sôbre o mar

a cavaleiro sobre o mar, minha janela
passa os dias ouvindo o marulhar das ondas
e o grito das gaivotas despencando
dos rochedos...

Abre-se toda minha janela ao som do vento
e aos raios do sol que incendeiam as vidraças,
dourando o mármore branco da sacada...

Minha janela tem histórias a contar,
Do farol ao longe na ilha deserta,
de barcos e navios naufragados
e fantasmas que vagueiam pelo mar...


...........by £una


O Amor, por Mauricio Rodrigues






O amor é um só, mas ele briga com suas próprias formas concorrentes. O amor tem sua variedade, intensidade. Ama-se muito, sente-se pouco amado, ou não amado. Tem até quem se sente incapaz de ser amado. O amor dói, mas se não dói, talvez não seja amor. O amor também alivia e cura e como é bom ser curado com amor. Desse amor que é inteligente ou insano, das formas que se tenta amar, as formas que o amor nos atenta. O amor que conta histórias, o amor que é história. Tem os que dizem que amam, outros que só dizem eu também. Dizem qualquer forma de amor vale a pena. O amor vale as penas que ele amor nos impõe.

Há muitos que procuram um atalho para o amor, outros no amor o caminho encurtar, há os que procuram no amor a metade, mas amar só metade é pouco Tem os que procuram o gêmeo, ou a fórmula do amor E é esse amor que é pessoal e é transferível e Sempre extensivos aos dependentes, mas que nunca Deve ser deixado longe do alcance das crianças e dos animais. Tem o amor de caras lindas e o de caretas horríveis E aquele amor que dá pulos de alegria Ainda o que jogado ao chão feito capacho Desse amor que só um pouco entendo, que é de sair por aí Pela vida tentando amar.



http://www.recantodasletras.uol.com.br/

03 outubro, 2008

Encantador de Serpentes






Já tentei lacrar meu peito,

mas quando menos suspeito,

ele usa artimanhas irregulares,

consegue a chave enfim

e volta a gritar em mim...


Mudei seu nome, seu significado,

mas caio no pecado

de me iludir novamente;

e ele, sempre latente,

aflora ainda mais resistente...


Presenteei-o com maldades,

joguei-o em leviandades,

cultivei doenças, indiferenças,

ausência de crenças...

... inutilmente!


Criei venenosas serpentes,

para cuspir palavras impolutas...

Ele bravamente luta,

transpõe barreiras sorrateiras,

a tudo resiste. é astuto!


Deixar o coração de luto,

também não deu certo:

o mais que pôde o coração sangrou,

mas ele outra vez entrou

e o cicatrizou.

Apaguei minhas velas,

ele se acostumou ao escuro...


Tornei-o impuro, cerquei-me de procelas,

ele navegou e atravessou todas elas...

Destruí meu corpo,

entreguei-me à bebida,

caí na vida, cheguei à sarjeta...


Piedosamente, ele deu-me a mão,

entoou uma canção,

arrancou-me desta veste preta...

... e, mais uma vez, fraquejei de emoção!


Ah, o amor!... Que poder é este que ele tem

de me chegar nas horas que a ele convém,

ainda que eu queira seguir na solidão?...


Marise Ribeiro