18 novembro, 2008

A complexidade da amizade - uma divagação




A complexidade da amizade - uma divagação nesse dia-

Falar das amizades é tão difícil quanto é fácil vivê-las!
São tantos os tipos!


Meus amigos reais, por assim dizer, aqueles que tem um corpo visível para mim e que se movimentam fora da internet (rsrsrsss)... são, na sua maioria, um fracasso completo na web. Raramente enviam scraps, depoimentos e imagens... os quais tanto gosto. Isso me frustra... queria-os aqui... mais!

Esses seres "reais" dotados de movimentos não internéticos... telefonam, mandam mensagens de texto para o celular... e se tornam presentes de várias outras maneiras. O prazer das suas companhias é inegável e intransferível.

Conversar horas a fio, rir, brincar, jogar, falar das mais íntimas descobertas... ir à praia e às compras, tomar vinhos, whiskys... comer delícias juntos... hummmm... é beleza pura!


Isso me gratifica... muito, quase demais... rsrsrssss

Eu os amo por isso e... por muito mais!!!!

Os amigos virtuais, por assim dizer, aqueles cujo corpo é estático para mim e que se mostram através de fotos, movimentam-se com uma freqüência absurdamente maravilhosa aqui na telinha: mandam scraps, imagens, poesias, poemas e depoimentos, através dos quais falamos-escrevendo, numa experiência singular, bela e intransferível.

Eu os amo por isso!

Os amigos virtuais-reais, como os tenho denominado, por assim dizer, estão presentes diariamente na telinha... seus corpos se movimentam em palavras, frases, imagens, poesias, jogos, tecnologias, brincadeiras, trocas de vivências e experiências absurdamente lindas e impensáveis no, até então, chamado "mundo real"!


As risadas são ouvidas num eco sem som!

E os sentimentos despertados são tão percebíveis quanto é sentido um abraço ou um beijo na face: delícia!


Nessa relação virtual-real e em tempo real, construímos um mundo sofisticado repleto de beleza ímpar: flores, fadas, castelos, ruínas, anjos, elfos, sereias, fantasias de todos os tipos... que cruzam o mundo real e o transformam em... algo melhor, mais belo, relaxante, compartilhado em jpg, gif, flash e assim por diante: uma realidade-ficcional-não ficcional-real que espanta!


Um novo mundo em formação.
E eu os amo por isso, muito!

Muito interessante é como esses "papéis" de amigos se conjugam: por vezes, os ditos reais estão ausentes e os virtuais e os virtuais-reais estão presentes, acompanhando o agora, o ontem e o amanhã imediato, que logo se transforma num hoje, aqui na telinha.


Também é interessante o fato de que, mesmo conhecendo "tão pouco" sobre os amigos incorpóreos da telinha".... rsrsss.... temos tanta intimidade e convivência.
São maneiras de interagir completamente... singulares, por um lado, quando comparados aos "amigos reais"... e completamente plurais, por outro, quando comparados entre si, de tal maneira que companhia é uma palavra de quase impossível definição nesses tempos.


O que é companhia?

Qual a companhia que cada um desses tipos de amigos oferece?

Existe alguma melhor?
Companhia para o que?


A amizade é uma instituição e os amigos são a materialização dessa instituição, tal como o são, por exemplo, a família, com seus pai, mãe, filho, irmão, tio, avós... etc.


Toda instituição têm funções a cumprir, metas estabelecidas e regras e leis muito claras, explícitas ou não, mas, quase sempre não explicitadas, que funcionam como se fossem.


A família tradicional, por exemplo, cumpre a função de manutenção da espécie, de educação dos filhos e de manutenção das funções de outras instituições, como exemplo, a religião e a instituição do direito, da lei.


Cada uma dessas instituições está em acelerado e constante processo de mudança.

Algumas mudanças reais, como, por exemplo a adoção de crianças, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a oficialização de mulheres no sacerdócio, só para citar algumas, pois não quero me deter nisso, quero voltar à amizade, já são verificáveis; mas, a maioria dessas mudanças apenas camufla, disfarça, dissimula a continuidade de um status quo vigente.


Assim, um filho adotivo tem o mesmo status, perante a lei, que um filho biológico, mas não perante o imaginário e a convivência social; ele sempre será adotado... que veio porque os pais não puderam ter filhos naturais ou porque os tiveram e queriam ter um adotivo ou porque, ou porque, ou porque...


Assim, o casamento gay é possível em alguns países e os direitos são iguais perante a lei, mas no imaginário e nas relações sociais a coisa é bem diferente... a discriminação e o preconceito são informalmente dissimulados e muito maiores àqueles dirigidos às pessoas do mesmo sexo que não se casam...


Assim, a possibilidade de monjas e pastoras em algumas religiões fora do eixo judaico-cristão é possível, mas o imaginário social continua a condená-las como impuras, indignas e coisas do gênero.... algumas não podem se casar e ter filhos... porque isso não combina com a atribuição dada pelas outras instituições às mulheres, como a família e a religião dominante.
Cruzamento de instituições e práticas!


Com a amizade, parece-me, que as coisas funcionam de maneira um pouco diferente.
Há regras que sustentam as amizades e funções sociais para as quais estão destinadas: como por exemplo, socializar fora da familia, da escola e da religião.

Ora, um amigo é alguém não familiar que possibilita novas e outras visões de mundo, que não se cruzam, essas visões, nas instituições dominantes; isso
só para começar! Na adolescência, o grupo dos amigos é priorizado exatamente por isso.

A amizade, no entanto, está cruzada e atravessada por outras normas nem sempre definidas pela lei, e diferentes da família, mas sempre esperadas e, quando possível, exigidas entre os amigos. São exemplos disso a cumplicidade, a honestidade, o companheirismo, a transparência, a confiança, a intimidade emocional, o respeito incorruptível.
Quantos casamentos e ofícios religiosos e seus oficiantes continuam depois de uma traição, por exemplo? Muitos... quase todos, até prova em contrário.

A mesmo sociedade que condena é a que absolve...


Com a amizade não se dá isso.

A chamada fidelidade ao amigo é espontânea e intransferível. Claro que no casamento isso também é desejado, mas, quando não há, geralmente, apesar de cada vez menos, a relação continua.


As relações de amizades são porosas, permeáveis e possibilitam ajustes incrivelmente criativos porque não têm estatuto legal, familiar, no sentido de parentesco, e religioso. É possível terminar uma amizade com a mesma rapidez com que se começa uma.

É possível, também, exercitar sentimentos e atitudes, como o perdão, a tolerância, a aceitação e a não convivência cotidiana... o que facilita muito a manutenção de espaços-tempos passíveis de resignificação dos laços.


L
onge de pensar que seja só isso que torna as relações de amizade tão oxigenadas e oxigenantes, quero apenas dizer que ela, a instituição da amizade, também cria vícios, familiarismo intoxicantes e desavenças importantes... como cobranças... "porque você não me disse? Você não me procura há uma semana"... rsrsrsrss... coisas desse tipo.

A grande questão que me ocupa é, para resumir, a seguinte: a liberdade que a amizade dá, traz e estimula, mesma sendo e tendo estatuto extra oficial como instituição, é uma benção que só se diferencia do amigo, ocupante e desempenhador concreto da amizade, porque este último, o amigo, é uma materialidade sólida de uma prática altamente gasosa, etérea, eólica que dignifica a vida e os sentimentos mais nobres... os quais precisam, penso eu, permear, fecundar, contaminar as outras instituições... a família, a educação, a religião!


Já imagino que mundo mais belo e digno seria esse!


Ahhh... não imagino que pais e filhos, padres e religiosos sejam amigos como são os amigos, mas que sejam transversalizados por vetores de afeto semelhantes, ou iguais, aos que os amigos possuem.


Felix Guattari chama isso de devir!


Deviramos, deviremos, pois!

No que tange aos amigos reais, virtuais e reais-virtuais... isso, no meu entender e na minha prática, já aconteceu.

Viva!

Obrigados meus amigos... de todos os tipos.

Amo vocês!

Feliz dia do amigo!!!........... que é "todos os dias" sem ser diário e que é... sempre sem ser "eterno"!

Eternizante... é o que são nossos encontros!!!

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