02 agosto, 2009

Louco (Jorge Reigada), ou Variações sobre o amor louco e o louco amor:





Variações sobre o amor louco e o louco amor:

Quem já não teve um amor louco?
Enlouqueceu por amor?
Foi considerado louco por causa desse amor?

Quem já loucamente amou, mesmo não sendo louco?
Quem já não amou sozinho e, de forma... louca?
Quem já não amou loucamente um amor louco por um louco?
Amou?
Isso... termina?

Uma psicanalista lacaniana disse certa vez:
"Amar é dar o que não se tem para quem não é o que a gente pensava".

(Nó Góorgio... eles adoram!)


LOUCO

(Jorge Reigada)

Quero ficar só, sozinho com minhas lembranças.
Quero sentir as mil agulhadas da recordação, a suave dor da saudade.
Mas só, sozinho.
Quero que me venha a mente o passado já que no futuro não penso e o presente não vivo.
Viver para que? Para manter a recordação? E sentir a dor intensa da separação?

Não, não quero mais ter os pensamentos controlados.
Que a inexistência de idéias me permita viver absorto a tudo e a todos.

E tudo por sua causa.
Se você compreendesse meu esforço, se apercebesse que o amor por você me tolhia
nada de ruim teria acontecido.
E hoje estaríamos juntos unidos pelos laços do amor do meu amor ao menos.
Você não quis. Achou-me fraco eu sei.
Sentiu que podia me dominar.
E numa fúria indomável pôs tudo a perder.
Todo um sonho, o meu sonho. A vida, papel em que desenhei o amor perfeito.

Quando nossos olhos se espelharam a primeira vez.
Seu sorriso um amanhecer de um lindo dia me trouxe a esperança de ver meu desenho concretizado.
E na minha ingenuidade, na ânsia de realizar o meu ideal tracei as mais belas formas e em prosa cantei.

Quando vires a tarde triste
Com ar de que vai chover
Lembra-te que são meus olhos
Que choram por não te ver.

Mas, aos poucos vi desmoronar pedra por pedra aquele castelo de amor tranqüilo que tanto imaginei.
E o sonho fechou a janela pela qual olhava a vida me deixando só a realidade que vi estampada
em seus olhos ferinos.


Quis fugir, mas, não consegui.
Sentia-me preso as suas garras, aprisionado pelo seu cheiro,
hipnotizado pelo seu olhar.
E qual cão que se sujeita a vontade do dono quedei-me quieto ao seu lado aconcheguei-me aos seus pés.

Como sofri. Quanta vez tive vontade de correr, de sumir desaparecer para sempre.
Mas, quando seus olhos para mim voltava, sua voz fazia-se ouvir a meu lugar retornava
aconchegado a seus pés.

Hoje, não a vejo mais e aprisionado neste quarto sou considerado louco.
Louco porque me desprendi da coleira, da corda que me envolvia o pescoço e procurei ser livre...
Não. Louco, porque não consigo afastar de mim sua presença.
Louco por não esquecer sua vos, seu olhar.
E irado desfiro murros contra a parede e vejo as feridas abertas em minhas mãos
salpicarem o chão com gotas de sangue. E quando as gotas procuro.
Vejo o seu nome por elas escrito. então, choro...
Um louco também sabe chorar..






Links relacionados
:
*Psicologia e Vida Livres: O irresistível (e a esfinge!)

* Psicologia e Vida Livres: O Nó Górdio... Brecht

* Psicologia e Vida Livres: Os Vampiros, cuidado... eles existem! ou... sobre o Mestre e as Aprendizagens

* Psicologia e Vida Livres: Mito reconhecido como mito

* Psicologia e Vida Livres: Mito em desconstrução

* Psicologia e Vida Livres: Mente-mito-minto




Nenhum comentário: