11 março, 2010

Espaço Aberto, por Luciano Luppi



Por vezes sou acometido de uma comichão-urticária-mental 
ao ler alguns textos que me parecem estar associados à auto-ajuda:

Receitas prontas e conselhos não solicitados com-vistas 
ao-crescimento-pré-determinado-linear-e-padronizado!

Seja como for, o texto abaixo, que nem sei se é de auto-ajuda,
me pareceu bem escrito, lúcido e simples, por isso o posto aqui.

Algumas vezes, a simplicidade e objetividade de um depoimento é 
um estímulo que ilumina lugares que estão... escurinhos dentro das pessoas.

Esoterismos à parte e feng shuis à parte...
certo está que é importante fazer da prática ecológica uma realidade cotidiana.
Isso inclui limpezas de todos os tipos: 
mentais, relacionais, mnemônicas, afetivas;
relativas aos objetos cheios de apego e assim por diante.
Alguns são recicláveis; outros não!


 Espaço Aberto 
Luciano Luppi   

Um dia me dei conta de que, para continuar crescendo,
era urgente iniciar uma faxina dentro de mim.
Eu precisava de mais espaço aqui dentro e,
no entanto, havia muitas lembranças
inúteis e indesejáveis ocupando o lugar
da alegria e dos sonhos.

Um canto estava abarrotado de ilusões,
papéis de presente que nunca usei,
algumas mágoas, risos contidos e livros que nunca li.
Espalhados por todos os lados haviam
projetos de vida abortados e decepções.

Abri o armário e joguei tudo no chão.
Foram caindo: desejos reprimidos, olhares de crítica,
palavras arrependidas,
restos de paixão e ressentimentos estúpidos.
Mas haviam coisas importantes no meio de tudo:
um brilho de esperança, o amor maduro,
algumas boas gargalhadas, momentos de ternura e paz,
desafios e bastante amizade.

Não havia dúvida, bastava jogar no lixo
tudo que não servia mais para que eu continuasse crescendo.
E depois, tratei de varrer
todas as recordações empoeiradas,
passei um pano nos ideais,
pendurei os sentimentos nobres na paredes mais claras,
guardei nas gavetas todas as boas lembranças,
perfumei a criatividade e abri a porta
para que o meu espaço fosse invadido
por algo que estava faltando para o meu crescimento pessoal:
a capacidade de recomeçar.

Um comentário:

Cida Gaiofatto disse...

Forma bem poética de fazer uma reciclagem, limpando, selecionando, fazendo escolhas que confiram sentido real na realidade ilusória que vivemos...Na maturidade, estou achando ótimo aprimorar os desejos...já que imperfeitos que somos, não vivemos sem eles...(os desejos) Que valha a pena!!!!...Abraço grande...

Cida Gaiofatto.