25 março, 2010

Fabula indiana que mostra sobre os erros de percepção: reducionismo


Esta fábula mostra com clareza, como é fácil se deixar levar por fragmentos para fazer generalizações: uma das gêneses do pré-conceito. 

Tomar a parte pelo todo e generalizá-la, supondo que a verdade da parte pode ser e é a verdade do todo é a simplificação do complexo, é o reducionismo do todo a um de seus componentes, à parte, e é, também, a generalização do que é específico: meios eficientes, esses, de buscar respostas fáceis e se contentar com quimeras perceptivas. 

Nesgas de percepção que geram milhares de desentendidos e desentendimentos... tudo movido pelo desejo absoluto de saber mais do que o outro. E melhor. Tudo isso movido pelo mesquinho e já instituído, como norma, desejo de não pensar. Uma lógica perversa de "no stress",  vigente na sociedade de consumo rápido e de fácil digestão.

Só para citar um outro exemplo, este blog teve 700 entradas e visitas num único mes... vindas do twitter. Alguém de lá colocou um link para a dita postagem desse blog e... puff, se espalhou como que pelo vento. Quando me dei conta, mais de trezentas pessoas já tinha lido a tal postagem. Achei estranho.
Resolvi pesquisar o perfil desses leitores colocando um link para outra postagem relacionada, visando descobrir quantos dos interessados seguiria esse link a partir da sua chegada aqui no blog. Resultado: nenhum!
Dos quatrocentos e poucos que chegaram DEPOIS que associei outro link àquela postagem, NENHUM foi até lá para ler... nem sequer abriram a página.

Acontece que a verdade fragmentada até pode ser uma verdade, mas não deixará jamais de ser uma verdade fragmentada.
Para os consumidores de situações no stress, realmente pensar não vale à pena: dói, é demorado e ... precisa colocar os neurônios e neurotransmissores em funcionamento... muito difícil. Melhor pular para outro galho.

Na fábula abaixo, os cegos eram Sábios. Imaginem se não fossem.
Imaginem se fossem pessoas "comuns" que possuem saberes igualmente comuns e ordinários.

Ainda bem que há pessoas comuns com saberes incomuns e que ainda acreditam nos seus cerebros e na sua capacidade de não se deixar levar pela primeira impressão.
Sim, é a tal primeira impressão que quase sempre gera funestas interpretações da realidade e de sua rede de ligações... matando, desse jeito, a possibilidade de que as verdades possam aparecer com mais nitidez, encantamento, alegria e veracidade, sem preconcepções simplistas. 

Conhecer as realidades, verdades, conceitos, comportamentos nossos e dos outros serve para nos ORIENTAR em relação à vida, nossa vida.
Se as tomamos como generalizações a partir de fragmentos ficamos irremediavelmente DES-orientados.

Trabalhar em si as formas de perceber é um exercício imprescindível para que quer habitar um mundo que necessita mais de pessoas, de humanos e  e menos de vacas de presépio, macacos amestrados e babacas não estressados de plantão. 

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OS CEGOS E O ELEFANTE

Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas consultavam-nos.
Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles, que, de vez em quando, discutiam sobre o qual seria o mais sábio.

Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:
- Somos cegos para que possamos ouvir e compreender melhor do que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando, como se quisessem ganhar uma competição. Não agüento mais! Vou-me embora.

No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou:
- Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar os seus músculos e eles não se movem; parecem paredes.
- Que bobagem! - disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante - Este animal é pontudo como uma lança, uma arma de guerra.
- Ambos se enganam - retrucou o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante - Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.
- Vocês estão totalmente alucinados! - gritou o quinto sábio, que mexia as orelhas do elefante - Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante.
- Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! - irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante - Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele.

E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança.

Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
- Assim os homens se comportam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!

História do folclore Hindu. 

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