23 maio, 2010

Eugénio de Andrade, in Vertentes do Olhar



A casa é branca, branca de cal 
(que de todos os brancos é o único que é branco), 
debruada de azul, por ser à beira-mar a cor da alegria. 
Branca e fechada – não vá o sol que arde nos telhados 
penetrar insidiosamente por alguma fresta e incendiar 
o silêncio melindroso da alcova. 

A obscuridade quase não consente a contemplação 
do rosto infantil que ali dorme até ao sol ter amansado. 
Só então desperta e se refugia nos braços que já o esperam.
Por este rapazito serias capaz de correr o mundo 
a pé-coxinho, se ele to pedisse, ou de entrar pelo buraco 
da fechadura só para o veres dormir.

Um comentário:

Kátia disse...

Hummm… hãn hãn!!!

"... ou de entrar pelo buraco
da fechadura só para o veres dormir."

Eugénio by Eugénio:

"...Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem
fundo, como quem bebe a madrugada."


Lindaaaaaaaaaaa miragem!!! Hahahahahahahaha!!!
Mas... esfregando os olhos, balançando a cabeça, respirando fundo e me movendo com as dunas, acho Eugénio de Andrade o poeta da intensidade, da luminosidade e do amor. Até acho que ele é o intérprete maior de uma espécie de voz coletiva. Revela o desassossego do espírito... Transporta-nos para o mistério da vida... Muitas vezes, em seus poemas, ele consegue fazer crer que nós somos o que resta dos deuses.

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