17 junho, 2010

Os aprendizes falam sobre o "Estado fugaz de plenitude"...





- Reger a sinfonia da própria existência!
Eis um estado fugaz de plenitude.

- Um estado fugaz de onipotência infantil!
Nem tão fugaz!

- Sentir que tudo pode, vê e entende!

- Bipolar. Maníaco. Louco.

- Fruto de longas aprendizagens.

- Frutos da sua mania de perfeição!

- Só posso supor, pelas sua palavras, 
que você nunca sentiu nada disso!

- (Silêncio). Imagino que ainda queira mais!

- Claro. Mais tempo... sentindo isso tudo. 
Assim!

- Você fala com as palavras grandiloquentes 
do mago. E... com desejo de absoluto.

- Você fala com as palavras do cético acólito,
que tudo enquadra nas referências dominantes.
Preste atenção: eu usei a palavra fugaz.

- Só por que disse que você é louco?

- Não. Porque considera que a sua é a única verdade.
E porque acha que magia e saber comum não podem 
andar juntos. Porque considera que não pode haver
momentos mágicos na e a propósito da ciência.

- Não me venha com aquele papo de que existe magia
na descoberta e no fazer científico.

- A magia existe, quer você acredite nela ou não. 
Como acha que foram descobertas as estrelas e 
o movimento dos planetas?  Pela simples observação!
Uma curiosidade infantil a proporcionou.
E não era onipotência infantil do cientista observador!

- Sim, eu sei.  Agora podemos encerrar esse primeiro ato.
Pausa e intervalo. Só me diga: Você desacredita na onipotência 
infantil que atravessa os adultos? E os faz ficar "cheios de si"?

- Ohh, claro que não. Ela existe e não tem vinculação nenhuma 
com a magia. E a magia da qual falo não é essa que você aprende 
nos rituais e manuais.... com o nosso mago-mor...

- Eu aprendo!?!

- Ok. Nós aprendemos.
Estou falando na magia da vida, aquela em que sentimos 
e percebemos coisas que, nem sempre podemos explicar e entender.
Embora, passado o momento fugaz, possamos fazê-lo... e bem!

- Acho que você está muito metafísico.

- Estou feliz e em paz. É diferente.

- Não concebo como a paz pode trazer experiência de delírio e idéias tão... 
megalomaníacas de reger a existência.

- Para um aprendiz de mago, você está muito fixado na idéia de destino!

- Nem falei em destino.

- E precisa? Usar a palavra?

- Você não quer parar com essa discussão.

- Você me provoca. E sua provocação me soa tão doce que 
parece mel com cerejas! Uma delícia.

- Horrível.  Doce demais.
Uuiii, chega a me dar arrepios!

- De prazer?

- Não me provoque. Você sempre teve gosto pela polêmica.

- Sim, e você sempre a desperta e acirra... com esse seu estado 
de ceticismo generalizado. Com essa sua mania de duvidar de tudo que ...
foge aos seus quadradinhos!

- Acha mesmo que eu sou tão enfadonho? Formal? Cético?

- Só quando o deseja. E nisso, você é um belo sparring.

- O seu atrevimento não conhece limites. 

- E a sua capacidade de assumir esse papel, também não!

- Que papel?

- O de sparring!

- Isso está parecendo uma conversa entre a esfinge e a pirâmide.

- Sim,  mas elas são muito onipotentes. Cada uma a seu modo!

- Infantis também?

- Acho que não. São... contundentes e antagonistas.

- Não é esse o papel do sparring?

- Agora você me lembrou a Bellonda, de Duna.

- Aquela chata. É mesmo. Está certo. Sou mesmo um sparring 
à altura da nossa busca de aprendizado. Até mesmo a Reverenda Madre
sabia que Bellonda teria algo a contribuir.

- Bellonda era fascinante no seu ceticismo cínico e questionador.
Tinha muito de aparência, nisso.
Tal como você!

- Seu humor é contagiante! Vamos rever a conversa daquelas anciãs?

- As de Duna?

- Não. A Esfinge e a Pirâmide!

- Sim, vamos. Mas não esqueça... é o intervalo. Retomaremos.

- Certamente.


(De "Conversa entre aprendizes 
do grau sétimo da cor azulada." p. 627)

9 comentários:

Kátia disse...

Alguém tem acesso a esses livros que vez ou outra algumas preciosas páginas são exibidas aqui? Diálogos que fogem do lugar comum e de uma simples história clássica, com início, meio e fim... Será sempre assim? Ahhhhhhhhhhhh, lógico que sim! É pra deixar o leitor curioso para os próximos capítulos. Hahahahahahahahahahaha!!!

Essas reflexões refletem fantásticos deslocamentos em mim e isso é muito bom porque sou impulsionada a mudanças substanciais. Reinvento-me. E reinvetar muitas vezes não significa coisas novas, mas recuperação de valores perdidos.

Pessoas especiais são também aquelas que têm a habilidade de dividir suas ideias. Obrigada por isso.

.

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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Acho que a grande maioria das pessoas não sabe conversar - versar com e fazer versos, poéticos ou não - e, muito menos, afirmar seus pensamentos e questionamentos de maneira direta, respeitosa - mesmo que provocativa, atrevida e investigativa.

Assim, nessas conversas - que por demais me agradam, postar - fico a inventar outros universos de referência: algo que penetre as muralhas dos egos e ... se choque diretamente no inconsciente.... rssss

Adoro!

Um dos sentidos, minha caríssima, você o pegou e plantou em terra fértil e é exatamente esse:

"...E reinvetar muitas vezes não significa coisas novas, mas recuperação de valores perdidos".

Outro é inventar valores próprios, inéditos, em ato... palavra-ação.
Um "função de autonomia" que derrube as paredes duras dos pensamentos... aqueles... você sabe: os dos podres poderes instituídos.

Será mesmo que eu divido as minhas idéias?

Sim, em parte. rssss

Acho que também as multiplico com você. Multiplicamos.

Os livros... são acessíveis somente a mim, que tenho a chave - bem guardada.
Ahhh não... não é para deixar o leitor curioso.

É que eles são escritos no próprio ato da conversa... em "cristal riduliano", de Ix (Veja em Duna... piada!)

Well, anyway... de nada. A pleasure.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Agora reli essa conversa singular e "efemeramente" complexa desses dois aprendizes da magia da vida e... ADOREI porque achei muito, mas muito engraçado. Realmente me diverti!

Quase nunca fico a reler, mas, hoje, valeu a pena.

Tão bom seria se as pessoas conseguissem falar - a despeito e a propósito do ego - de uma tal maneira que se produzisse mudança na própria forma de pensar, no próprio pensamento.... produzindo, através de tal diferença, um pensamento "disruptivo"
(Edgar Morin).

Pois, a questão que está colocada é o "demasiado" grande desafio de romper com... todas aquelas formas intituidas e massificantes de "o que ele vai pensar?", "Será que vai se ofender?"... etc, etc e tal.

Formas educadas de manter "tudo como está" e "não se meter e não correr riscos".
Formas educadas de "excesso" de respeito ao outro: "um amor demasiado humano" (Suely Ronik)

Educadas?
Que educação é essa que nega a divergência e prega o "politicamente correto" como modus operandis de evitar conflito através da negação da problemática que se evidencia... e que acaba acomodada ou dissimulada?

Que educação?

Ora, com frequencia se faz necessário ser "deseducado" para ser respeitoso.

Há tipos de respeito pelo outro e pelo que se pensa, sente, vê, e deseja que são atravessados e constituídos por lógicas diferentes dessas normativas, modelizantes, lineares e acomodativas...

Essas lógicas não estão só baseadas na inteligência e no (uso eficaz do) raciocino.
Estão, também, conectadas a planos de sensibilidades afetiva, espiritual, atômica... atípicas.

Sem militância:
Por uma educação mais deseducada e por uma deseducação mais educada.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Onde se lê, no comentário acima
"um amor demasiado humano" (Suely Ronik)

leia-se...

um amor "demasiadamente humano" (Suely Rolnik)

Kátia disse...

Pessoas 'educadas' sofrem de síndrome de multidão, ora bolas. Na multidão é fácil se esconder, é melhor para seguir as tendências e é claro, minimizar os riscos. Há quem até escolhe a profissão pelo status. Ouvem músicas porque todos gostam daquela... Que triste!

Um dia eu ouvi que toda unanimidade é um vestígio de burrice, e eu tenho que concordar. Não vejo lógica deixar de ser quem se é só para ser mais agradável. O que esse tipo de pessoa se esquece é que ser diferente é ser original, "simples assim", como você diz.

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Kátia disse...

Plenitude, um estado ideal? Fugaz? Duradoura? Inabalável e indestrutível?
Nada mais é, maguinho querido e provocador, que um tempo que não existe no tempo, apenas dentro de cada um de nós.


"Pausa e intervalo". Hahahahahahahahaha!

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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Sim, um tempo que existe dentro de nós quando nos permitimos senti-lo e vivê-lo com plenitude.

As vezes, sentimentos de culpa - sempre ela, essa praga - atrapalham.

Visão desfocada, ou muito para dentro ou só no fora, também atrapalham...

Mas acho que você matou a charada: (um tempo fora do tempo"... DENTRO DO TEMPO.

kkkkkkkk

ADORO
ponto de exclamação

Kátia disse...

Sentimento de culpa? Aquele que carrega remorso e censura??? Autopunição!!! Cruzeeeeeeeeeees, uma praga que não pode virar epidemia.

"Tão bom seria se as pessoas conseguissem falar - a despeito e a propósito do ego - de uma tal maneira que se produzisse mudança na própria forma de pensar, no próprio pensamento.... produzindo, através de tal diferença, um pensamento "disruptivo". (Edgar Morin).

Tão bom seria!
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