31 julho, 2010

M de Maladie [Doença], por Gilles Deleuze, ou sobre a fadiga, o cansaço, "o ser" do velho, a sobriedade e ser "deixado de lado" pela sociedade



M de Maladie [Doença]
GD: Doença.

CP: Logo após terminar o manuscrito de Diferença e repetição em 1968, você foi
hospitalizado por causa de uma gravíssima tuberculose. Você, que falou sobre o fato de
Nietzsche e Spinoza e os grandes pensadores terem saúde fraca, foi obrigado a conviver
desde 1968 com a doença. Você sabia que a tuberculose estava aí há muito tempo? Ou
sabia que seu mal estava aí há muito tempo?

GD: O mal, sim. Sabia que eu tinha algum mal há muito tempo. Mas acho que sou como a
maioria das pessoas, não tinha muita vontade de saber o que era. E, como a maioria, estava
certo de que era um câncer. Então, não tinha pressa de saber. Eu não sabia que era
tuberculose até o momento em que comecei a cuspir sangue. Sou um filho da tuberculose,
mas foi num momento em que esta doença não apresentava mais perigo algum, pois já
havia os antibióticos. Se tivesse sido dez ou três anos antes, teria sido bem mais grave. Se
tivesse sido alguns anos antes, eu não teria sobrevivido. Mas não houve problema algum.
Além do mais, é uma doença que não comporta dor. Posso dizer que estive muito doente,
mas é um grande privilégio ter uma doença sem sofrimento, que é curável, sem dor... Quase
não é uma doença. É uma doença, sim, é verdade. Mas, antes, eu nunca fui um homem
saudável. Sempre me cansei facilmente. A questão é saber se isso facilita. Se alguém que se
propõe, — nem estou falando do sucesso desta empreitada — mas alguém que quer, que
gosta e tem como proposta pensar ou tentar pensar, saber se o fato de ter uma saúde fraca
lhe é favorável. Não é que se esteja à escuta de sua própria vida, mas pensar é para mim
estar à escuta da vida. Não é o que acontece com si próprio. Estar à escuta da vida é muito
mais do que pensar em sua própria saúde. Mas acho que uma saúde fraca favorece este tipo
de escuta. Há pouco, disse que grandes autores como Lawrence ou Spinoza viram alguma
coisa grande, tão grande que era demais para eles. É verdade que não se pode pensar sem
estar em uma área que exceda um pouco as suas forças, que o torne mais frágil. Eu sempre
tive uma saúde fraca e isso ficou mais claro a partir do momento em que fui tuberculoso.
Aí, eu adquiri todos os direitos de uma saúde fraca. Sim, é como você diz.

CP: Mas a sua relação com médicos e medicamentos mudou a partir daí. Você teve que ir a
médicos e tomar remédios regularmente, o que foi uma obrigação! Ainda mais você que
não gosta muito de médicos.

GD: Não é uma questão pessoal, pois eu conheci muitos médicos encantadores. Mas é um
tipo de poder ou a forma como eles manipulam este poder que me parecem detestáveis.
Voltamos ao que já falei. É como se a metade das letras comportasse o todo. A maneira
como manipulam o seu poder é detestável. Como médicos, eles são detestáveis. Tenho um
profundo ódio, não pela pessoa dos médicos que, em geral, são encantadores, mas pelo
poder médico e pela maneira como usam este poder. Mas uma coisa me deixou feliz e, ao
mesmo tempo, é o que os chateia. Os médicos trabalham cada vez mais com aparelhos e
testes, em geral muito desagradáveis para o paciente e que parecem não ter interesse algum,
a não ser o de confirmar o diagnóstico. Mas se são médicos talentosos, estes já sabem o
diagnóstico e estas provas cruéis só vêm reforçá-lo. Eles fazem uso destas provas de uma
forma inadmissível. O que me deixou feliz foi que, sempre que eu tive de passar por um
daqueles aparelhos, meu fôlego era fraco demais para ser registrado pela máquina. E
quando tiveram de me fazer um... Não sei mais como se chama, mas é um exame do
coração que não conseguiram fazer.

CP: Uma ecografia.

GD: Sim, é isso, e tive de passar por este aparelho aí. A minha alegria foi vê-los furiosos
naquele momento. Acho que eles odeiam o pobre paciente neste momento. Eles aceitam
errar o diagnóstico, mas não aceitam que alguém não possa ser visto pela máquina. Além
do mais, eles são muito incultos. Eles são muito... Como diria? Quando eles se metem na
cultura, é uma catástrofe. A classe médica é uma gente estranha. O que me consola é que
ganham muito dinheiro, mas não têm tempo para gastá-lo ou aproveitá-lo, pois levam uma
vida extremamente difícil. É verdade que os médicos não me atraem muito. É claro que isso
independe da personalidade deles, mas quando exercem a sua função, tratam as pessoas
como cães. Aí, há de fato uma luta de classes, pois se o paciente é rico, eles já são bem
mais educados. Menos em cirurgia, que é um caso à parte. Mas os médicos precisariam de
uma reforma, pois há de fato um problema.

CP: E os remédios que precisa tomar o tempo todo?

GD: Até que eu gosto. Remédios não me aborrecem. Mas cansam, claro.

CP: Mas não é uma chatice tomar remédios?

GD: Quando são muitos, como atualmente, sim. Aquele monte de remédios de manhã cedo
parece uma besteira. Mas eu também sinto que é muito útil. Eu sempre fui a favor dos
remédios, até na área de psiquiatria. Sempre fui a favor da farmácia.

CP: E este cansaço do qual falou, que está ligado à doença, e que já existia antes da doença,
me faz pensar no texto de Blanchot sobre o cansaço na amizade. O cansaço ocupa grande
parte de sua vida. Às vezes, parece que o usa como desculpa para o que o está chateando.
Você usa o cansaço. O cansaço lhe é útil.

GD: Eu acho o seguinte... Voltamos ao tema da potência. O que é realizar um pouco de
potência, fazer o que se pode, fazer o que está na minha potência? É uma noção bem
complexa, pois o que nos torna impotentes, como uma saúde fraca ou uma doença...,
precisa-se saber como utilizá-las para, por meio delas, recuperar um pouco da potência. É
claro que a doença deve servir para alguma coisa, como todo o resto. Não estou falando
apenas em relação à vida, na qual ela deve dar um sensação. Para mim, a doença não é uma
inimiga, pois não é uma coisa que dá a sensação da morte, e sim, que aguça a sensação da
vida. Não é no sentido de: “Ah, como gostaria de viver e quando estiver curado, vou
começar a viver!” Não é nada disso. Não há nada de mais abjeto no mundo do que um bon
vivant. Ao contrário, os grandes vivos são pessoas de saúde muito fraca. Voltando à
questão da doença, ela aguça uma visão da vida, uma sensação da vida. Quando falo em
visão da vida, em vida ou em ver a vida, é ser tomado por ela. A doença aguça e dá uma
visão da vida. A vida em toda a sua potência, em toda a sua beleza! Estou seguro disso.
Mas como ter benefícios secundários da doença? É muito simples. É preciso usá-la para ser
mais livre. Tem de usá-la, senão é muito chato, pois a gente se estafa e isso não deve
acontecer. Estafar-se trabalhando para realizar alguma potência vale a pena, mas estafar-se
socialmente, eu não entendo. Não entendo um médico estressado porque tem clientes
demais. Tirar partido da doença é se libertar das coisas das quais não se liberta na vida
normal. Por exemplo, eu nunca gostei de viajar. Nunca pude, nem soube viajar. Respeito os
que viajam, mas o fato de ter uma saúde tão frágil me dava muita segurança para recusar
qualquer viagem. Sempre foi muito difícil deitar-me muito tarde. A minha saúde não me
permitia deitar tarde demais. Não estou falando em relação aos amigos, mas às tarefas
sociais. A doença me libera muito. É ótima neste sentido.

CP: Você vê esta fadiga como a doença?

GD: A fadiga é outra coisa. Para mim é: “Hoje, fiz o que pude”. A fadiga é biológica. O dia
acabou, pronto. Ele pode durar mais por razões sociais, mas a fadiga é a formulação
biológica do fim do dia. Não dá para tirar mais nada de você. Visto desta forma, não é um
sentimento desagradável. É desagradável se não se faz nada. Aí, é angustiante. Do
contrário, é bom. Eu sempre fui sensível aos estados suaves. Estas fadigas suaves. Gosto
deste estado quando ele vem no final de alguma coisa. Isso deveria ter um nome em
música. Não sei como chamariam isso. É uma coda. A fadiga é uma coda.

CP: Gostaria de que falássemos de sua relação com a comida.

GD: A velhice... A velhice, não. A comida?

CP: Sim, porque você gosta de comidas que parecem lhe dar força e vitalidade, como
miolo, lagosta, etc. Mas tem uma relação particular com a comida. Não gosta muito de
comer.

GD: Sim, para mim, comer é uma coisa... Se eu tentasse definir a qualidade de comer seria
muito chato. Para mim, comer é a coisa mais chata do mundo. Beber, sim! Mas a letra B já
passou. Beber é extremamente interessante. Comer nunca me interessou e acho chatíssimo.
Comer sozinho é terrível. Comer acompanhado muda tudo, mas não transforma a comida,
só me permite suportar comer, mesmo que eu não diga nada, e faz com que seja menos
chato. Comer sozinho... Muita gente é assim. Aliás, a maioria das pessoas admite que
comer é uma tarefa abominável. Mas é claro que tenho os meus pratos prediletos. Mas são
especiais, pois causam um nojo universal. Mas, afinal, eu bem que suporto o queijo dos
outros.

CP: Você não gosta de queijo.

GD: Dentre as pessoas que não suportam queijo, eu sou um dos raros a ser tolerante, pois
não expulso aquele que come queijo. Sempre suportei este gosto que me parece igual ao
canibalismo. Parece-me o horror absoluto. Quando me perguntam de que é composta a
minha refeição predileta, que seria uma festa para mim, eu sempre falo de três coisas que
me parecem sublimes e, no entanto, são nojentas: língua, miolo e tutano. São coisas muito
ricas e seria difícil engolir tudo isso. Mas há alguns restaurantes em Paris que servem
tutano. Mas, depois, não posso comer mais nada, pois servem uma grande quantidade.
Aliás, é fascinante. O miolo e a língua... Se eu tentasse relacionar com o que dissemos, há
uma espécie de trindade. Poderíamos dizer — e seria anedótico — que o cérebro é Deus, é
o Pai. Que o tutano é o Filho, já que está ligado às vértebras, que são pequenos crânios, e
Deus é o crânio. Pequenos crânios, vértebras... Portanto, o tutano é Jesus. E a língua é o
Espírito Santo, que é a própria potência da língua. Eu também poderia arriscar assim: o
miolo é o conceito, o tutano é o afecto e a língua é o percepto. Não me pergunte por quê,
mas sinto que são trindades. É, esta seria uma refeição fantástica para mim. Não sei se já
tive os três ao mesmo tempo. Talvez em algum aniversário. Alguns amigos teriam feito
uma refeição destas para mim. Uma festa!

CP: Mas não pode comer as três coisas...

GD: Seria demais!

CP: ... pois fala de sua velhice todos os dias.

GD: A velhice! Alguém soube falar da velhice. Foi Raymond Devos. Muitas outras coisas
foram ditas, mas ele disse o melhor para mim. Acho que a velhice é uma idade esplêndida.
Claro que há algumas chateações, tudo fica mais lento, nos tornamos lentos. O pior é
quando alguém lhe diz: “Mas não é tão velho assim!” Não entende o que é uma queixa.
Estou me queixando dizendo “Ah, estou velho!”. Ou seja, invoco as potências da velhice. E
aí, alguém me diz, com a intenção de me consolar: “Não está tão velho assim”. Eu daria
uma bengalada nele! Logo quando estou em plena queixa da minha velhice, não venham
me dizer: “Até que não é tão velho assim”. Pelo contrário, deviam dizer: “Está velho
mesmo!” Mas é uma alegria pura. Fora esta lentidão, de onde vem esta alegria? O que é
terrível na velhice? Não é brincadeira. É a dor e a miséria. Não é a velhice em si. O que é
patético, o que torna a velhice algo triste são as pessoas pobres que não têm dinheiro para
viver, nem um mínimo de saúde necessário e que sofrem. Isso é que é terrível. E não a
velhice! A velhice não é um mal em si. Com dinheiro suficiente e um mínimo de saúde, é
formidável. E por que é formidável? Primeiro, porque, na velhice, sabe-se que chegou lá. O
que é muito! Não é um sentimento de triunfo, mas chegou lá. Chegou lá em um mundo
cheio de guerras, de vírus malditos e tudo o mais. Mas conseguiu atravessar tudo isso, os
vírus, as guerras e todas estas porcarias. Esta é a hora em que só há uma coisa: ser! O velho
é alguém que é. Ponto final. Podem dizer que é um velho rabugento, etc. Mas ele é. Ele
adquiriu o direito de ser. Afinal, um velho pode dizer que tem projetos. É verdade e não é.
São projetos, mas não da forma como alguém de 30 anos tem projetos. Espero escrever
estes dois livros, um sobre a Literatura e outro sobre a Filosofia. Mas, mesmo assim, estou
livre de qualquer projeto. Estou livre de projetos. Quando se é velho, deixa-se de ser
suscetível. Não há mais suscetibilidades, não há mais decepções fundamentais. Estamos
muito mais desinteressados. Amamos as pessoas de fato pelo que elas são. Acho que afina a
percepção. Vejo coisas que não via antes, percebo elegâncias às quais eu não era sensível.
Agora, eu as vejo melhor, porque olho para alguém pelo que ele é, quase como se eu
quisesse carregar comigo uma imagem dele, um percepto ou tirar da pessoa um percepto.
Tudo isto torna a velhice uma arte. Os dias passam numa velocidade impressionante com a
escansão, a fadiga. A fadiga não é uma doença, é outra história. E também não é a morte.
Eu repito: é um sinal de que o dia acabou. Com a velhice, existem algumas angústias, mas
basta evitá-las. Elas são fáceis de serem esconjuradas. Elas são como os lobisomens ou os
vampiros, é só não estar na frente de um. Gosto desta idéia. Não se deve estar sozinho à
noite quando começa a esfriar, pois somos lentos demais para poder fugir. Então, são coisas
a evitar. A grande maravilha é que as pessoas deixam a gente de lado, a sociedade deixa a
gente de lado. Ser deixado de lado pela sociedade é uma alegria tamanha! Não que a
sociedade tenha me importunado muito, mas quem não tem a minha idade ou não está
aposentado não sabe a alegria que é ser deixado de lado pela sociedade. Os velhos que eu
ouço se lamentando são aqueles que não queriam ser velhos, que não suportam a
aposentadoria. Não sei por quê. Que leiam romances! Pelo menos, descobririam alguma
coisa. Eles não suportam. Eu não acredito, com exceção de alguns casos japoneses,
naqueles aposentados que não conseguem encontrar alguma ocupação. É uma maravilha ser
deixado de lado. Basta sacudir-se um pouco para que tudo caia. Caem todos os parasitas
que você carregou a vida inteira. E o que resta à sua volta? Só as pessoas que ama e que o
suportam e o amam também. O resto deixou você de lado. Estou falando de mim. Mas fica
muito difícil quando querem trazê-lo de volta. Não suporto isso. Eu só conheço a sociedade
através do aviso de chegada da aposentadoria todo mês. Do contrário, sei que sou um
desconhecido para a sociedade. O problema é quando alguém acredita que eu ainda faço
parte dela e que me pede uma entrevista. No nosso caso atual, é diferente, pois faz parte de
um sonho de velhice. Mas quando alguém quer me entrevistar, tenho vontade de dizer: “Tá
maluco? Você não sabia que sou um velho e fui deixado de lado pela sociedade?” Mas é
bom. Acho que estão confundindo as coisas: o problema não é a velhice, mas a miséria e o
sofrimento. Mas quando se é velho, miserável e sofredor, aí, não há palavras para dizer o
que é. Mas um velho simplesmente, que é apenas velho, é o ser.

CP: Mas como está doente, cansado e velho, fazendo a devida distinção entre as três coisas,
deve ser difícil para aqueles que o cercam e que não estão doentes, cansados, nem velhos
como você. Para seus filhos e sua mulher?

GD: Meus filhos... Meus filhos, não há muito problema. Poderia haver algum problema se
eles fossem menores, mas como já são grandes, vivem a sua vida e eu não dependo deles,
não há problema algum, a não ser problemas afetivos quando eles pensam: “Ele parece
cansado mesmo”. Mas acho que não há um problema grave com os filhos. E com Fanny,
acho que também não é um problema. Mesmo se para ela... Não sei... É difícil imaginar o
que teria feito a pessoa que ama se tivesse vivido outra vida. Suponho que Fanny teria
gostado de viajar. Ela certamente não viajou como talvez tenha desejado. Mas o que ela
descobriu que não teria descoberto se tivesse viajado? Como ela teve uma formação
literária muito forte, quantas coisas ela descobriu em romances esplêndidos que valem por
mil viagens? Claro que há problemas, mas estão acima da minha compreensão.

CP: Para terminar, quando fala de seus projetos, como o livro sobre a Literatura e o seu
último livro O que é a Filosofia?, o que há de divertido em abordá-los estando velho? Você
disse que talvez não os realizasse, mas que era divertido.

GD: É uma coisa maravilhosa, sabe? Primeiro, há uma evolução. Quando se é velho, a idéia
do que deseja fazer fica cada vez mais pura, no sentido de que fica cada vez mais refinada.
É exatamente como as famosas linhas de um desenhista japonês. Linhas muito puras.
Parece não ter nada, só uma linha muito fina. Eu só posso conceber isso como o projeto de
um velho. Algo que seja tão puro, tão nada, mas, ao mesmo tempo, seja tudo, seja tão
maravilhoso! Para conseguir alcançar esta sobriedade, só depois de muito tempo de vida. O
que é a filosofia? Acho muito divertido, na minha idade, a idéia de sair em busca do que é a
Filosofia, de ter a sensação de que sei e de que sou o único a saber. Se eu morrer atropelado
amanhã, ninguém vai saber o que é a Filosofia. São coisas muito agradáveis para mim. Mas
eu poderia ter escrito um livro sobre o que é a Filosofia há 30 anos. Eu sei que teria sido
muito... Teria sido um livro muito...

CP: Pesado?

GD: Muito diferente do que aquele que concebo agora, em que busco uma certa sobriedade.
Poderia ser bom, como poderia não ser. Mas sei que é agora que devo concebê-lo. Antes, eu
não saberia. Agora, acho que sou capaz. Mas, de qualquer forma, não seria...

........................................

Nesse Abecedário de Gilles Deleuze 
(que ele solicitou só fosse veiculado, 
apresentado e publicado após a sua morte)
que estou postando aqui, 
à medida que meus interesse e necessidades vão
possibilitando isso, encontramos muito do pensamento
e da obra desse autor: verdadeiros estímulos à diferença
e importantes conexões com as potências de e da vida.

Ele fala sobre As Coisas da Vida e A Vida das Coisas
com tal leveza, sabedoria, descontração e pertinência
que fica muito difícil não virar "fã de carteirinha, bandeira,
crachá, registro, sindicato, fã clube e etc., 
algo que ele abominaria, certamente.

Aqui me encanta a possibilidade de um devir velho.
Sair de todos os constrangimento colocados pela sociedade 
e ser efetivamente esquecido, 
ainda que em alguns importantes momentos, 
e resistir aos (des)encontros despotencializantes 
que tanto engessam nossos processos de singularização.

E ainda assim, produzir, ser, estar e viver bem!

Acionar o devir velho - em todas as idades -
e produzir sem a preocupação da produção,
é uma possibilidade de resistência aos processos 
de subjetivação dominantes.

Tal como o devir criança, mulher,
homossexual, atômico, planta, animal.
Enfim!

Mas o texto acima fala por si só.
E eu fico encantado a cada vez que o leio.

Memória, por Carlos Drummond de Andrade





Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond
de Andrade




25 julho, 2010

Clarice Lispector sobre os "segredos para viver"




“E eis que sinto que em breve nos separaremos.
Minha verdade espantada é que eu sempre
estive só de ti e não sabia.
Agora sei: sou só.
Eu e minha liberdade que não sei usar.
Grande responsabilidade da solidão.


Quanto a mim assumo minha solidão.
Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício.
Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima
que na solidão pode se tornar dor.
E a dor, silêncio.

Guardo o seu nome em segredo.

Preciso de segredos para viver.”

Clarice Lispector



J de Joie [Alegria], por Gilles Deleuze, ou sobre as potências, contrárias à culpa e ao poder



CP: J de Joie [Alegria]. É um conceito do qual você gosta muito, pois é um conceito de
Spinoza, que tornou a alegria um conceito de resistência e vida. “Evitemos as paixões
tristes e vivamos com alegria para ter o máximo de nossa potência; fugir da resignação, da
má-consciência, da culpa e de todos os afectos tristes que padres, juízes e psicanalistas
exploram”. Entende-se perfeitamente do que você gosta nisso tudo. Gostaria que
distinguisse a alegria da tristeza e definisse o que é a distinção de Spinoza. Você descobriu
alguma coisa no dia em que leu isso?

GD: Sim, porque são os textos mais extraordinariamente carregados de afectos em Spinoza.
Vou simplificar muito, mas quero dizer que a alegria é tudo o que consiste em preencher
uma potência. Sente alegria quando preenche, quando efetua uma de suas potências.
Voltemos aos nossos exemplos: eu conquisto, por menor que seja, um pedaço de cor. Entro
um pouco na cor.
Pode imaginar a alegria que isso representa? Preencher uma potência é isso, efetuar uma
potência. Mas o que é equívoco é a palavra “potência”. E o que é a tristeza? É quando estou
separado de uma potência da qual eu me achava capaz, estando certo ou errado.
“Eu poderia ter feito aquilo, mas as circunstâncias... não era permitido, etc.” É aí que ocorre
a tristeza. Qualquer tristeza resulta de um poder sobre mim.

CP: Você estava falando sobre a oposição alegria/tristeza.

GD: Eu dizia que efetuar algo de sua potência é sempre bom. É o que diz Spinoza. Mas isso
traz problemas. É preciso especificar que não existem potências ruins. O que é ruim não é...
O ruim é o menor grau de potência. E este grau é o poder. O que é a maldade? É impedir
alguém de fazer o que ele pode, é impedir que este alguém efetue a sua potência. Portanto,
não há potência ruim, há poderes maus. E talvez todo poder seja mau por natureza. Não,
talvez seja muito fácil dizer isso. Mas mostra bem a idéia da ... A confusão entre poder e
potência é arrasadora, porque o poder sempre separa as pessoas que lhe estão submissas,
separa-as do que elas podem fazer. Tanto que foi deste ponto que partiu Spinoza. Como
você citou: “A tristeza está ligada aos padres, aos tiranos...”

CP: Aos juízes.

GD: São pessoas que separam seus sujeitos do que eles podem, que proíbem as efetuações
de potência. Curiosamente, há pouco, você falou da reputação de anti-semitismo de
Nietzsche. Neste exemplo, vê-se esta questão muito importante. Há textos de Nietzsche que
poderiam parecer preocupantes se são lidos muito rapidamente, e não da forma como
propomos que os filósofos sejam lidos. Em todos os textos em que fala do povo judeu, o
que Nietzsche critica nele? O que fez com que, em seguida, dissessem que Nietszche era
um anti-semita. É interessante, pois o que ele repreende no povo judeu, em condições
específicas, é o fato deste povo ter inventado um personagem que não existia antes: o
padre. Eu não conheço nenhum texto de Nietzsche a respeito dos judeus na forma de um
ataque. O ataque é contra o povo que inventou o padre. Segundo ele, nas outras formações
sociais, existem feiticeiros, escribas, mas nenhum deles é a mesma coisa que o padre. Eles
inventaram uma coisa impressionante e Nietzsche, que tem grande força filosófica, não
deixou de admirar o que detesta, ele disse: “Mas é incrível ter inventado o padre. É uma
coisa prodigiosa”. Em seguida, fez a ligação direta dos judeus com os cristãos. Só não é o
mesmo tipo de padre. Os cristãos conceberam outro tipo de padre e continuaram no mesmo
caminho: com o personagem do sacerdote. Pode-se ver o quanto a filosofia é concreta. Eu
diria que Nietzsche é o primeiro filósofo a ter inventado, criado o conceito de padre. E, a
partir daí, trouxe um problema fundamental que é: em que consiste o poder sacerdotal?
Qual é a diferença entre o poder sacerdotal e o poder real? Estas são questões ainda muito
atuais. Pouco antes de sua morte, Foucault tinha encontrado a mesma coisa, só que com
seus próprios meios. Aí, poderíamos retomar tudo sobre o que é prolongar a filosofia.
Foucault também sugere um poder pastoral, um novo conceito diferente mas que, ao
mesmo tempo, se encaixa no de Nietzsche. Por aí, existe uma história do pensamento. E o
que é este poder de padre e em que está ligado à tristeza? Segundo Nietzsche, o padre se
define desta forma: ele inventou a idéia de que os homens estão num estado de dívida
infinita. Eles têm uma dívida infinita. Antes, havia histórias de dívida, mas Nietzsche
precedeu todos os etnólogos. Aliás, os etnólogos deveriam ler Nietzsche. Eles descobriram
bem depois de Nietzsche que, nas sociedades primitivas, havia permutas de dívidas. Não
funcionava tanto através da troca, como se pensava, mas por partes de dívidas: uma tribo
tinha uma dívida para com outra tribo, etc. Eram blocos de dívidas finitas: eles recebiam e
devolviam. A diferença com a troca é que havia a realidade do tempo. Era uma restituição
diferida. É importante! A dívida precede a troca. São questões filosóficas: a permuta, a
dívida, a dívida que precede a troca. É um grande conceito filosófico. Digo filosófico
porque Nietzsche disse antes dos etnólogos. Mas enquanto as dívidas têm este regime
finito, o homem pode se libertar. O padre judeu invoca, pois, em virtude de uma Aliança, a
idéia de uma dívida infinita do povo judeu para com Deus, e os cristãos retomam esta idéia
de outra forma, a idéia de dívida infinita ligada a do pecado original. O personagem do
padre é muito curioso. E cabe à Filosofia fazer o conceito. Não digo que a Filosofia seja
atéia, mas, no caso de Spinoza que já tinha esboçado uma análise do padre, do padre judeu
no Tratado Teológico-Político, pode acontecer que conceitos filosóficos sejam verdadeiros
personagens. É por isso que a Filosofia é tão concreta. Fazer o conceito do padre é como
algum artista faria o quadro ou o retrato do padre. O conceito do padre trazido por Spinoza,
por Nietzsche e, depois, por Foucault, forma uma linhagem apaixonante. Eu também
gostaria de entrar nesta linha e ver que poder pastoral é esse. Dizem que ele não funciona
mais, mas quem o substituiu? A psicanálise é um novo avatar do poder pastoral. Em que ele
se define? Os padres não são a mesma coisa que os tiranos, mas eles têm em comum o fato
de manterem-se no poder através das paixões tristes que eles inspiram aos homens. Do tipo:
“Arrependam-se em nome da dívida infinita, você é objeto da dívida infinita”. Por esse
caminho, eles têm poder! O poder é sempre um obstáculo diante da efetuação das
potências. Eu diria que todo poder é triste. Mesmo se aqueles que o detêm se alegram em
tê-lo. Mas é uma alegria triste. Sim, existem alegrias tristes. Mas a alegria é uma efetuação
das potências. Eu repito: não conheço nenhuma potência má. O tufão é uma potência.
Alegra-se na alma, mas não por derrubar casas, mas simplesmente por ser. Regozijar-se é
estar alegre pelo que somos, por ter chegado onde estamos. Não se trata da alegria de si
mesmo, isto não é alegria, não é estar satisfeito consigo mesmo. É o prazer da conquista,
como dizia Nietzsche. Mas a conquista não consiste em servir pessoas. A conquista é, para
o pintor, conquistar a cor. Isso sim é uma conquista. Neste caso, é a alegria. Mesmo que
isso não termine bem, pois nestas histórias de potência, quando se conquista uma potência,
ela pode ser potente demais para a própria pessoa e ela acaba não suportando. Van Gogh!

CP: Agora, uma pergunta subsidiária: você, que escapou da dívida infinita, por que se
queixa da manhã à noite e é um defensor do lamento e da elegia?

GD: Esta é uma pergunta pessoal. Sim, eu sempre gostei da elegia. Ela é uma das duas
fontes da poesia, uma das principais fontes da poesia. É o grande lamento. Há uma grande
história a ser feita sobre a elegia. Não sei se já foi feita, mas é muito interessante. Há o
lamento do profeta. O profetismo é inseparável do lamento. O profeta é aquele que se
lamenta e diz: “Mas por que fui escolhido por Deus? O que eu fiz para ser escolhido por
Deus?” Neste sentido, ele é o contrário do padre. Ele se queixa do que acontece com ele. O
que significa: “É grande demais para mim”. Eis o que é a queixa: “O que está acontecendo
comigo é grande demais para mim”. Aceitando, pois, o lamento, o que nem sempre se vê,
pois não é só “Ai, ai, que dor!”, mas também pode ser. Aquele que se queixa nem sempre
sabe o que está querendo dizer. A velha senhora que se queixa de seu reumatismo está, na
verdade, querendo dizer: “Que potência está se apoderando da minha perna e que é grande
demais para que eu a suporte?” Se formos procurar na História, é muito interessante, pois a
elegia é, antes de tudo, a fonte da poesia. É a única poesia latina. Na época, eu lia muito os
grandes poetas latinos Catulo, Tibúrcio e outros. São poetas prodigiosos. O que é a elegia?
Acho que é a expressão daquele que não tem mais um estatuto social, temporariamente ou
não. É por isso que é interessante. Um pobre velho se queixa. Um homem nas galés se
queixa. Não tem nada a ver com tristeza, é a reivindicação. Há uma coisa na queixa que é
impressionante. Existe uma adoração na queixa, é como uma oração. Os queixumes
populares, tudo... A queixa do profeta, a de um tema que você conhece bem, que é a queixa
do hipocondríaco. O hipocondríaco é alguém que se lamenta. E as queixas do
hipocondríaco são bonitas: “Por que tenho um fígado? Por que tenho um baço?” Não é o
“Ai, como dói!”, e sim “Por que tenho órgãos?” Por que isso, por que aquilo... O lamento é
sublime! O queixume popular, o lamento do assassino, que é cantado pelo povo... São os
excluídos sociais que estão em situação de lamento. Há um especialista húngaro chamado
Tökel, que fez um estudo sobre a elegia chinesa no qual mostra que a elegia chinesa é,
acima de tudo, animada por aquele que não tem mais estatuto social, um escravo livre. Um
escravo ainda tem um estatuto, por mais desgraçado que seja. Pode ser infeliz e espancado,
mas tem um estatuto social. Mas há períodos em que o escravo livre não tem estatuto
social, ele está fora de tudo. Deve ter sido assim para a geração dos negros na América com
a abolição da escravidão. Quando houve a abolição ou então na Rússia, não tinham previsto
um estatuto social para eles e foram excluídos. Interpretam erroneamente como se eles
quisessem voltar a ser escravos! Eles não tinham estatuto. É neste momento que nasce o
grande lamento. Mas não é pela dor, é uma espécie de canto e é por isso que é uma fonte
poética. Se eu não fosse filósofo e fosse mulher, eu gostaria de ter sido uma carpideira. A
carpideira é uma maravilha porque o lamento cresce. É toda uma arte! Além do mais, tem
um lado pérfido: não se queixe por mim, não me toque. É um pouco como as pessoas
demasiadamente polidas. Pessoas querendo ser cada vez mais polidas. Não me toque! Há
uma espécie de... A queixa é a mesma coisa: “não tenha pena de mim, disso cuido eu”. Mas
ao cuidar disso, a queixa se transforma. E voltamos à questão de algo ser grande demais
para mim. A queixa é isto. Eu bem que gostaria de todas as manhãs sentir que o que vivo é
grande demais para mim porque seria a alegria em seu estado mais puro. Mas deve-se ter a
prudência de não exibi-la, pois há quem não goste de ver pessoas alegres. Deve-se escondêla
em um tipo de lamento. Mas este lamento não é só a alegria, também é uma inquietude
louca. Efetuar uma potência, sim, mas a que preço? Será que posso morrer? Assim que se
efetua uma potência, coisas simples como um pintor que aborda uma cor, surge esse temor.
Ao pé da letra, afinal, acho que não estou fazendo Literatura quando digo que a forma
como Van Gogh entrou na cor está mais ligada à sua loucura do que fazem supor as
interpretações psicanalíticas, e que são as relações com a cor que também interferem.
Alguma coisa pode se perder, é grande demais. Aí está o lamento: é grande demais para
mim. Na felicidade ou na desgraça... Em geral, na desgraça. Mas isso é detalhe.

CP: Foi uma ótima resposta. Vamos à letra K de Kant!

GD: Aí tem menos graça.

CP: Sinto que esta vai ser rápida.


24 julho, 2010

Khalil Gibran provocando conversas no orkut sobre a liberdade e suas decorrências




ÉS LIVRE...

És livre na luz do Sol
e livre ante a estrela da noite.
E és livre quando não há sol,
nem lua ou estrelas.

Inclusive, és livre quando fechas os olhos
a tudo que existe.
Porém, és escravo de quem amas
pelo fato mesmo de amá-lo.
E és escravo de quem te ama,
pelo fato mesmo de deixar-te amar

Khalil Gibran 



Desta postagem, realizada ontem no orkut,
resultou essa animada, inteligente, brincalhona, 
criativa e singular conversa poetante, 
entre eu e meu amigo Carlos Tenreiro, 
o poeta solar dos ventos:
.........................

*Sou livre quando sou o sol. 
E minha liberdade, assim nas chamas, 
se ajoelha perante os campos onde
 me dissemino.
Abraços alados, Cesar. 

- Mui belo, Carlinhos.

Sempre inspirado!
Quando não são os ventos, é o sol!
Quando não são os alados vôos, são
as planícies verdejantes!
E assim vai me deixando encantado.
Tal qual o girassol, vai se movendo
e nos deixando da sua poesia desejantes! 

*Não, Cesar.
 Você está ERRADO. 
O encantado aqui sou eu. 

- Errado o encantado.
Se dos seus versos sou privado
Fico triste e deplorado
Mas valeria estar desavisado
Do que esperar o poeta ficar inspirado

*Seus "ados" rimados me fazem imantados. 
Permaneça aqui, Cesar, seja 
em meus silêncios 
ou em minhas sinfonias, 
florescendo assim meus descampados. 
Abraços alados do Carlos. 

- kkkk
Ki bu ni ti nhuuuuuuuuu 

*srsrsrsrsrsrssrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
Né, não? Brados bunitinhos 
para um amigo florindo. 
Felicidades! 

- Florindo
viu
a lua
dormindo
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

*Despetalaria
o sol agora
para vê-la em lua.
Quanto à lua, sol despetalado,
Acordaria os lírios
E floriria novamente o dia. 

- Lírio
que colírio.
Seus versos são um delirio!

A lua, agora adornaria
para vê-la sol.
Quanto à noite, não me importaria
já que o jasmim igualmente floriria.

*Cesar poetiza
Nessa noite em que o sol delira
Breus de alvorada.
Belo é ver, nesse leves da noite
Um touro pegar da lira
E tocá-la como se o dia fizesse brisa
Da densa pele desse touro mítico.
Touro e lira, músico e sinfonia 
fazendo nova constelação
Acordes do infinito. 

- Sem condições de prosseguir
nessa prosa de autoria
não sendo poeta, só sei devir
e no sono que se anuncia
entregar-me-ei com alegria
na esperança de um outro dia
seus versos novamente ouvir 

rs
Entregue-se aos sonhos 
em seu despertar de flutuações. 
Boa viagem. Retorne, please. rs 

...............................

Moral da história:
Para quem acha que na internet, no geral, 
e no orkut, no particular, 
tudo se cola e se copia... está enganado.
Ainda existe a possibilidade de criar, 
inventar, brincar 
e se divertir com companhias 
genuinamente singulares. 
Escolhidas a dedo, claro!
Algumas dessas brincadeiras, conversas,
duetos e trocas  estão aqui pelo blog.
Meu carinho e agradecimentos ao Carlos,
 também conhecido como Pégasus; 
à Kátia, a Kaká, a leitora 
e comentarista-mor;
 à Cida, a Gaiô, poeta inspiradíssima;
à Flor; à Lenise, a maga dos scraps;
à Amália Catarina; à Luna, 
outra inspirada orkuteira.
Todos esses "monstros sagrados" 
estão usando a versão antiga do orkut.
Como eu. 
Felizmente..
Que possamos continuar usando-o 
e nos beneficiando 
dos recursos que ele dispõe 
e que não necessitam de ajustes "beta."
A não ser os que são somados a ele, 
mas não os que pretendem desativá-lo.