04 julho, 2010

Olhos verdes no preto e branco e Duna. Duna?








- O olho dele, verde, vê no preto e no branco.
Em busca da beleza e do lá-inatingível, ele vasculha.
E procura.

- Sonhos de poeta!

- Verdade de quem procura!

- E acha?

- O que você acha?

- Que é imaginação...

- O mundo que ele quer está distante, expresso na 
imagem em tons de amarelo e verde.
Repare que o elfo loiro, TAMBÉM tem olhos verdes!

- Você expressa-se... até nisso?
É tudo intencional?

- Ohhh não... foi surgindo e se montando, a medida 
que as imagens foram aparecendo.

- Parece muito sonhador, algo "fora da casinha" esse 
tal mundo colorido e distante dele. 
Inatingível.

- Nada disso.
Veja que o mundo dele, em preto e branco, é lindo.
Lindo!
Mas... o olho verde é quem vê essa beleza.

- Mas, ele, também, está em preto e branco!

- Fruto do seu mundo. Nosso mundo!

- Está bem.
Olhar para o mundo distante e trazê-lo para cá faz 
parte do sonho-de-realidade!
Eu sei que... lá... há uma espécie de "volta para 
casa"!
A distância é aqui.
A proximidade está lá.

- Agora você assumiu meu lugar. De crítico. De poeta. 

- De louco.

- E faz jogo com as palavras...

- É que estamos voltando à Bellonda, de Duna, caso 
você não tenha percebido.

- Assuntos dentro de assuntos!

- Estratégias dentro de estratégias...

- Esses alunos do mago estão adquirindo o hábito 
difundido de sempre estar ensinando.
Reverendas Maderes da Bene Gesserit em corpo de 
homem?

- Não faça comparações grosseiras.

- Foi você quem me comparou a Bellonda, a arquivista!
A volta do sparring?

- Ambos sabemos o que é um, de acordo com o 
ensinamento do nosso mestre, "interlocutor 
fidedigno", portanto, reconheça e aprecie - tirando o 
devido proveito - das nossas intermináveis conversas.

- Proveito?Um só?
Tem muitos proveitos para tirar. Tirar não. Pegar!
rsrsrsrsrsrs

-Agora é você quem está medonho!

- E você gosta disso. Veja: é uma simples 
afirmação.Não tem exclamação e nem reticências.

- Falando COM a escrita.

- Um modo peculiar! 
(E ouvi que você destacou o COM e que não exclamou).

- Ora, você sabe tão bem quanto eu, já que somos 
'PERFEITOS' aprendizes, que os processos de 
singularização que apontam e disparam diferenças 
emergentes tendem a ser capturados pelo... mundo de 
massificação da mídia e pelo senso comum. Ouvidos - e 
olhos - treinados para ver O MESMO".

- Ouço "senso comum" como bom senso. Odeio essa 
expressão!

- Sim, mas você sabe que, as vezes, é só ele quem nos 
tira da confusão.

- Da confusão não. Do cansaço!

- Sim, é vero. Mas, voltando a Bellonda e à Duna, 
quero relembrar essas citações (vou declamar para
você e para o seu deleite!) do volume 6, As Herdeiras 
de Duna...

- Meu deleite! hahahaha Você é mesmo muito...

- Não comece com seus papos sobre a onipotência 
infantil (no adulto). Arte e atrevimento de 
singularizar não...

- Tem nada a ver com isso. Eu sei. Queria só provocar 
um pouquinho... 

- Inevitável!

- Sim! (Sorriso)
Então veja só:

"Quando me dispus a conduzir a humanidade pelo meu 
Caminho Dourado, prometi-lhesuma lição que seus ossos 
não esqueceriam. Conheço um padrão profundo, 
que os humanos negam em palavras, mesmo quando 
suas ações o afirmam. 
Eles dizem que buscam segurança e tranqüilidade, 
condições que chamam de paz. Mesmo quando falam, criam
sementes de tumulto e violência.
-Leto II, o Imperador-Deus"

"Aquele que lança uma luz nova sobre o banal e o 
ordinário,pode aterrorizar. Não queremos ver nossas
 idéias modificadas. Ficamos ameaçados por esse tipo 
de exigência.
"Já conheço as coisas importantes", é o que dizemos. 
Então vem o Transformador e joga fora nossas velhas idéias. .
- O Mestre Zensufi"

"As regras constroem fortificações atrás das quais as 
mentes pequenas criam *satrapias. Um perigoso estado 
de coisas nos melhores tempos, desastroso durante as crises.
- O Coda Bene Gesserit"

- Bárbaro!

- E só mais essa:

"Bellonda entrou na sala em passos largos, sem se 
fazer anunciar, com um rolo deregistros de cristal 
riduliano sob o braço esquerdo. 
Caminhava como se odiasse o solo, batendo o pé 
com força sobre ele, como se dissesse: Tome aí! 
E mais! Mais esse! Batendo no chão por ele ser 
culpado de estar sob seus pés."

- Ela era militante (ocasional) e furiosa, quase 
sempre... Acho que era ariana ou virginiana... 
Jamais saberemos.
Só mais essa:

"Bellonda-velha, gorda e rubicunda. Arquivista 
Mentat, usando óculos para ler, agora, sem
dar importância ao que isso poderia revelar a seu 
respeito. Mostrou seus dentes rombudos
numa larga careta que dizia mais que palavras. Tinha 
visto a reação de Odrade ao relatório.
Bell poderia brigar mais uma vez pela retaliação na 
mesma moeda. Podia-se esperar essa atitude por parte 
de alguém que era valorizado por sua violência natural. 
Era preciso lançá-la de volta ao hábito Mentat, 
onde poderia ser mais analítica.

"A seu modo, Bell está certa", pensou Odrade. "Mas 
ela não vai gostar do que tenho em mente. 
Preciso ser cautelosa com o que digo agora. É 
cedo demais para revelar meu plano."

- Há certas circunstâncias em que a violência pode 
aplacar a violência - Odrade disse. -
Devemos considerar essa questão cuidadosamente.
"É isso! A observação evitaria a explosão de Bellonda."

Tamalane mexeu-se levemente na cadeira. Odrade olhou 
para a mulher mais velha. Tam,composta aí, em sua máscara 
de crítica paciência. 
Cabelos de neve acima da face estreita: a
aparência de uma sabedoria de muitos anos.
Viu, através da máscara de extrema severidade de Tam, 
a atitude reveladora de seu desagrado por tudo que via e ouvia.
Em contraste com a suave superfície da carne de Bell, 
havia uma solidez óssea emTamalane. 
Ela ainda se mantinha em forma, seus músculos tão bem 
tonificados quanto erapossível. Em seus olhos, porém, 
estava presente algo 
que desmentia isso: "uma sensação de retirada, aí, r
etraindo-se da vida". Oh, ela observava ainda, mas a
 retirada final já forainiciada. A afamada inteligência 
de Tamalane torna-se uma espécie de perspicácia, mais
confiante em decisões e observações passadas do que 
nas coisas que ela via no presente imediato.

"Precisamos começar a preparar uma substituição. Será 
Sheeana, eu acho. Sheeana é perigosa para nós, mas 
demonstra ser uma grande promessa. E Sheeana foi iniciada em
Duna."
Odrade fixou o olhar nas sobrancelhas revoltas de 
Tamalane. Elas tendiam a pender numdesalinho 
que escondia as pálpebras. "Sim. Sheeana 
para substituir Tamalane."
Conhecedora dos problemas complexos que tinham a 
resolver, Tam aceitaria a decisão.
No momento de anunciar o fato, Odrade sabia que 
apenas teria de chamar sua atenção para a
enormidade da crise que atravessavam.

"Sentirei sua falta, maldição."

- Planos, dentro de planos, dentro de planos...

- Coisas dentro das coisas, dentro das coisas. Dar 
visibilidade a isso, constitue-se numa das mais 
difíceis "Coisas da Vida"!

-É!
Mas é possível. E precisa de treino.
Até mesmo Bellonda mudou! (risos)

- Entendi o olho verde!
E a saudade da-casa-lar-distante!
"I AM COMING HOME".

- Vamos almoçar?

(De "Retomando conversas quando existe atualização, 
intensidade e/ou desejo. P.138)



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Nota minha:
*Satrapias eram "unidades políticas", segundo o livro 
de história da Coleção Objetivo.
O antigo Reino Persa,ao contrário dos outros 
Impérios, não possuía uma só capital. O Estado era 
dividido em pequenas "unidades políticas" chamadas 
Satrapias. Cada uma delas era administrada por um 
Sátrapa, que era considerado os "olhos e ouvidos" do 
Rei. Dentre importantes Sátrapias destacaram-se 
Pasárgada, Babilônia, Persépolis, Susa e etc.

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Postagens relacionadas:

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3 comentários:

Kátia disse...

Você deixa sempre nos seus textos um tesouro nas entrelinhas. Um alimento ao meu espírito. Sabe quando se abre um livro bom? Uma nova janela abre para revelar outras dimensões de um novo mundo.

"Transformador e joga fora nossas velhas idéias."

Você é um TRANSFORMADOR!!!
É como eu lhe disse lá:
Taí um portal de luz dourada.
Eita, Cecé! Eita, blog que eu amooooooooo!!!

.

Kátia disse...

Não li a série Duna e começo a ficar tentada a ler, assim como fico tentada a entender 'essas coisas dentro das coisas' nessas conversas entre o mago e o aprendiz.
Não consigo alcançar você em uma única leitura, Cesar! Então, leio e releio... e aos poucos, devagar, bem devagarinho vou me encantando com o muito que existe em seus textos. Vale a pena cada 'volta' pela qualidade das pérolas que colho.

Dio mio, deve ser bem chato viver sem sonhar. O colorido dos sonhos deve andar de mãos dadas com o preto e branco da realidade para evitar essa frustrante "volta para casa". ENTRE é o melhor lugar.
.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Sobre o primeiro comentário: me sinto lisonjeado, reconhecido, estimulado, alegre, feliz, inclusive.
Também comecei a amar meu blog e amo seus comentários, sua presença aqui.

Sobre o segundo:
"As coisas dentro das coisas, dentro das coisas" é uma expressão que inventei baseado nas "estratégias dentro das estratégias, dentro das estratégias"... que se encontra em Duna... planos dentro de planos, dentro de planos...

Refere-se aos escondidos, invisíveis... que estão ali o tempo todo, mas não enxergamos, não vemos porque... ou estão foram muito hábeis para lá e assim colocar ou porque... não dispomos d eparadigmas de VER.
Falta LENTES.
PRECISAMOS TROCAR DE ÓCULOS... kkkkkkkkkkkkkk

Você precisa reler? Ora, não há problema com isso... Até hoje estou relendo Deleuze e Guattari... pela milésima vez e sempre tem mais pra eu aprender... rs

Mas essa conversa, em particular, é meio louca mesmo, porque esses personagens são muito desejosos de questionamento, ligados às ironias refinadas e as discussões... profundas-em-fundo, por isso intermináveis.

Obrigado pelos seus comentários.

Sim, o ENTRE.
Um belíssimo lugar. Difícil de habitar, mas belíssimo.

Busquemo-lo... sempre que possível e habitemo-los.

Os ENTRE.

kkkkkkkkkkk