27 agosto, 2010

Hora do cansaço, por Carlos Drummond de Andrade, ou sobre o fim do desejo de absoluto, calçando vampiros.



HORA DO CANSAÇO*

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

*Carlos Drummond de Andrade


Amor eterno: Drácula.
Bram Stoker




Música: Wojciech Kilar 


Fim do desejo de absoluto.



Música: Vampire Hunters

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Se o amor não é eterno...
Será que podemos dizer que 
AMAR é 
eterno?



6 comentários:

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Hahahahaha...

Prova material do inconsciente:
O titulo deveria incluir a expressão caçando vampiros mas o "ato falho" (Freud) caracterizou-a como calçando vampiros.

Tentei reeditar, mas, esse novo editor do blogger, uma vez postado com erro, fica errado "para todo o
sempre" (talvez aqui valha "a eternidade"), já que, na tentativa de corrigir, ele "amontoa" todos os espaços e descaracteriza a edição anteriormente feita.

Mas, de qualquer forma, calçar também tem seu sentido, já que... além de caçar, dá vontade de calçar esses vampiros que fazem promessas de eternidade e colocá-los literalmente dentro do sapato e pisar em cima... rs...

Acabei deixando assim e preferi não editar "tudo de novo"... possibilidade que existia...

Então... caçando e calçando vampiros.
Boa.

Kátia disse...

"... dá vontade de calçar esses vampiros que fazem promessas de eternidade e colocá-los literalmente dentro do sapato e pisar em cima... rs..." kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, Transilvânia lhe aguarda!!!

Independente de promessas, my dear, sempre será eterno tudo o que for verdadeiro. Na vida, nem tudo tem um fim. Defino o amor como um sentimento intemporal, inqualificável e inquantificável. Desta forma, pra mim é eterno. A projeção pessoal que fazemos dessa energia é que é finita, assim como é a nossa vida. O desfazer de uma relação (penso aqui até em descrenças apesar de longos 20 anos...) não se pode imputar ao fim do amor, mas sim ao quebrar do laço afetivo.

Carambaaaaaaaaaa, que decepção Drummond vivia quando escreveu essa poesia! O sabor de uma decepção é sempre por demais amargo. Ele quis e registrou esse momento dele...

Fernando Pessoa também registrou seu cansaço:

O QUE HÁ EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO

O que há em mim é sobretudo cansaço ‒
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas ̶
Essas e o que faz falta nelas eternamente ̶ ;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada ‒
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Pode ter sido decepção e/ou "lucidez perigosa" (Clarice Lispector).

Eu já acho que há amores e amores e amores e amores... muitos tipos, quantidades e qualidades.
Eu meço como que em fita métrica alguns. Não consigo ter dimensão de tamanho por outros - excedem todas as referencias.
Também acho que amor acaba e termina.
Assim, como há essa variabilidade de maneiras e intensidades de sentir, vejo que uns são... eternos enquanto duram e outros, ainda, são (parecem que são) eternos mesmo que já não duram mais (não tem mais duração).

Adorei que tenha postado no comentário o Fernandinho Psssoa.
Tinha um outro em que ele falava sobre estar cansado (e que até já esteve no meu perfil...) deve estar por aqui no blog... no marcador Fernando Pessoa...
Se não me engano...

Kátia disse...

Decepção tem a ver com expectativas criadas. A dosagem, aqui também, é fundamental para não se vitimar. O outro não tem bola de cristal para agir da maneira que gostaríamos que agisse. Já falamos sobre isso.

Pois o que eu acho é que há definições e definições e mais definições e definições.Hahahahahahaha!!! Vixe, demais da conta!!! Tantas formas em ver o amor, em senti-lo... Quem sabe ele seja somente a melhor das melhores buscas que, individualmente, cada um faz? Quem sabe seja o mais puro, forte e luminoso sentimento que existe dentro do ser humano em relação a outro? Tão individual... Por isso tantas e tantas diferenças. E você acha que eu possa achar achando (hahahahahaha, quanto cha cha, cha) que em sendo o melhor dos melhores, o mais forte, puro e luminoso, possa acabar?

Onde foi que li isso? 'Hoje em dia, como os produtos perecíveis o amor tem data de validade'. Hahahahahahahahaha, ou sou da idade da pedra ou esse povo pirou. Eu encaro essa nobre energia como um fogo eterno que por vários motivos as chamas podem apagar, mas com o mais leve dos ventos REACENDE. Sempre. Ele hiberna. Mas acabar? Não.
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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Você mesma já respondeu sua pergunta depois dos cha, cha, cha... kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Apagar... chama... vento... reacender... huuuummmmmmmmmm
Um perigo!
kkkkkkkkkkkkkkk

Na real concordo, em parte com você, mas, mas, mas...

Nada de mas... é o seguinte: tem tudo isso, acho.
Acaba, não acaba... reacende... com vento, sem vento...

Sendo "o melhor dos melhores, o mais forte, puro e luminoso"... pode acabar só em alguuuuuns casos bem específicos... talvez, sim?

Kátia disse...

Acaba uma 'pinóia'!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nem em alguns casos específicos... rs

O falso amor, aquele mascarado, acaba sim. No amor VERDADEIRO o que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos que vão se transformando no decorrer da vida para acompanhar nossa eterna transformação. Mas acabar???? Ora, Senhor, dê-me paciência!Hahahahahahahaha!

Eu amo o amor!!! Ele é tão cheio de respeito, companheirismo e de um maravilhoso entendimento mútuo... fala-se até através do silêncio. O mais belo de tudo é que aceita-se o outro como ele é, convive-se bem com as semelhanças e diferenças, sem tentativas de remodelação conforme a imagem que se tem em mente. E o incrível é que vamos mudando, vamos nos transformando de uma forma mais elevada. Diferente daquilo que chamam de amor por aí e nada mais é que... sei lá o quê. Hahahahahahahahahaha!!!

Cesar, my dear, o amor quando bem-vindo a gente deixa ele ocupar todos os nossos espaços. E sabe aquele quartinho dos fundos? É pra lá que o transferimos quando não funciona mais. Isso quer dizer que nunca o expulsamos definitivamente de casa.

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