10 janeiro, 2011

Desembrulhar as flores (Ana Jácomo) e algumas rosas perfeitas (Clarice Lispector)






Poderíamos, com mais frequência,
tentar deixar a Vida em Paz
para desembrulhar suas flôres
no tempo dela, no tempo delas, e,
em alguns momentos,
nem desembrulhar.
Apesar da nossa cuidadosa aposta
nas sementes,
algumas simplesmente não vingam
e isso não significa que a Vida,
por algum motivo,
está se vingando de Nós.
Há muito mais jardim para
ser desembrulhado.

(Ana Jácomo)



"Eram algumas rosas perfeitas,
várias no mesmo talo.
Em algum momento tinham
trepado com ligeira avidez,
umas sobre as outras mas depois,
o jogo feito,
haviam se imobilizado tranquilas.
Eram algumas rosas perfeitas
na sua miudez,
não de todo desabrochadas
e o tom rosa era quase branco.
Parecem até artificiais!
Disse com surpresa.
Poderiam dar a impressão
de brancas se estivessem
totalmente abertas mas,
com as pétalas centrais
enrodilhadas em botão,
a cor se concentrava
e como num lóbulo de orelha,
sentia-se o rubor circular
dentro delas.
Como são lindas, pensou Laura
surpreendida.
Mas, sem saber por quê,
estava um pouco constrangida,
um pouco perturbada.
Oh, nada demais, apenas acontecia que
a beleza extrema incomodava."

Clarice Lispector



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