07 março, 2011

Clarice Lispector e e Fernando Pessoa sobre as mudanças





A prova de que estou recuperando a saúde mental,
é que estou cada minuto mais permissiva:
eu me permito mais liberdade e mais experiências.
E aceito o acaso.
Anseio pelo que ainda não experimentei.
Maior espaço psíquico.
Estou felizmente mais doida.

* Clarice Lispector *




Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que
a Primavera é gente
Para poder supor
que ela choraria,
Vendo que perdera
o seu único amigo.
Mas a Primavera
nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam,
ou as folhas verdes.
Há novas flores,
novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete,
porque tudo é real.

*Fernando Pessoa *




Partir! 
Nunca voltarei, Nunca voltarei 
porque nunca se volta. 
O lugar a que se volta é sempre outro, 
A gare a que se volta é outra. 
Já não está a mesma gente, 
nem a mesma luz,
 nem a mesma filosofia. 
 Partir! 
Meu Deus, partir! Tenho de partir! 

* Fernando Pessoa *




O amor é uma companhia. 
Já não sei andar só pelos caminhos,
 Porque já não posso andar só. 
Um pensamento visível 
faz-me andar mais depressa 
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar 
bem de ir vendo tudo. 
 Mesmo a ausência dela é uma 
coisa que está comigo. 
E eu gosto tanto dela que 
não sei como a desejar. 
Se a não vejo, imagino-a e sou forte 
como as árvores altas. 
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito 
do que sinto na ausência dela. 
 Todo eu sou qualquer força que me abandona. 
Toda a realidade olha para mim como um girassol 
com a cara dela no meio.

* Fernando Pessoa *

Um comentário:

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

(Tive de reeditar esta postagem porque as imagens sumiram. O Photobucket retira as imagens quando são muito clicadas e convida para se migrar para o plano pro, que é pago.
Tem uma quantidade mensal de imagens que podem ser expostas. Quando ultrapassada essa 'cota' elas desaparecem e voltam a parecer mais tarde, o que eu não consegui esperar. Apressadinho, estava eu.)

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Kátia disse...
Clarice, Fernando e a montagem do seu post. O que mais deslumbra? O todo! E as tantas reflexões a que somos convidados.

Ô, Clarice, nem sempre é uma tarefa fácil nos permitir... abandonar seguranças, arriscar-se à imprevisibilidade e experimentar o desconhecido. Talvez uma certa alergia às frustrações e tristezas. Atitude que camufla tanto insegurança quanto medos. Conflitos internos a serem resolvidos.

Há horas em que o cansaço de ser normal impera e deixamos rolar. Hahahahahahahahaha, com certeza, os melhores momentos da vida e FelizMente mais doidos. Isso que eu chamo de liberdade. Partimos num voo... Há novas flores... E nada mais torna, nada se repete porque já somos outros, a gare é outra. Não é Fernando?

Uma loucura essa do Alberto Caeiro!!! Amor dos 'brabos', hein?
É dele também:

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.