28 abril, 2011

O Permanente E O Provisório, por Martha Medeiros






O Permanente E O Provisório
Martha Medeiros

O casamento é permanente, o namoro é provisório.
O amor é permanente, a paixão é provisória.
Uma profissão é permanente, um emprego é provisório.
Um endereço é permanente, uma estada é provisória.
A arte é permanente, a tendência é provisória.
De acordo?
Nem eu.

Um casamento que dura 20 anos é provisório.
Não somos repetições de nós mesmos,
a cada instante somos surpreendidos
por novos pensamentos que nos chegam
através da leitura, do cinema, da meditação.

O que eu fui ontem, anteontem, já é memória.
Escada vencida degrau por degrau,
mas o que eu sou neste momento é o que conta,
minhas decisões valem pra agora,
hoje é o meu dia,
nenhum outro.
Amor permanente...
como a gente se agarra nesta ilusão.
Pois se nem o amor pela gente mesmo
resiste tanto tempo sem umas reavaliações.

Por isso nos transformamos, temos sede de aprender,
de nos melhorar, de deixar pra trás
nossos imensuráveis erros, nossos achaques,
nossos preconceitos, tudo o que fizemos,
achando que era certo e hoje condenamos.



O amor se infiltra dentro da nós,
mas seguem todos em movimento:
você, o amor da sua vida e o que vocês sentem.
Tudo pulsando independentemente,
e passíveis de se desgarrar um do outro.

Um endereço não é pra sempre,
uma profissão pode ser jogada pela janela,
a amizade é fortíssima até encontrar
uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos,
e se tudo isso é soberano e tem valor supremo,
é porque hoje acreditamos nisso,
hoje somos superiores ao passado e ao futuro,
agora é que nossa crença se estabiliza,
a necessidade se manifesta, a vontade se impõe
– até que o tempo vire.

Faço menos planos e cultivo menos recordações.
Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço.
Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve,
alcanço seus limites com as mãos,
é nele que me instalo
e vivo com a integridade possível.
Canso menos, me divirto mais,
e não perco a fé por constatar o óbvio:
tudo é provisório,
inclusive nós.



27 abril, 2011

Rush - La Villa Strangiato: An Exercise in Self-Indulgence... auto-perdão?





Rush - La Villa Strangiato
Tem o sugestivo sub-título de "An Exercise in Self-Indulgence".
que me faz pensar em aquietar os temores e tremores internos.
Auto-perdão?







Um convite a sermos mais dóceis
e suaves conosco, mesmo habitando
ou provocando turbulências.
A despeito delas, há calmarias, também!


26 abril, 2011

Fernando Pessoa sobre a liberdade...






A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

Fernando Pessoa



Nome da música:

State of Independence




22 abril, 2011

FELIZ PÁSCOA (!)... seja como for...





Escrituras:
Jesus foi para Jerusalém acompanhado de seus pais
quando tinha doze anos para comemorar a Páscoa,
a libertação do povo judeu à escravidão do Egito.

Cultura popular religiosa:
Comemora-se a Páscoa como sinônimo de sobrevivência
à morte do corpo e associa-se à transformação e mudanças.

Cultura popular:
Ovinhos de páscoa recheados ou de chocolate
como sinônimos de prosperidade e fertilidade.

Seja como for... FELIZ PÁSCOA!

Fernando (Pessoa) E Clarice (Lispector): mais uma dobradinha




O sonho é ver
formas invisíveis
Da distância
imprecisa, e,
com sensíveis
Movimentos da
esperança
e da vontade,

Buscar na linha
fria do horizonte
A árvore, a praia,
a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos
da Verdade.

*Fernando Pessoa*



Meu esforço: trazer

agora o futuro para já. Movo-me dentro de meus instintos fundos que se cumprem às cegas. Sinto então que estou nas proximidades de fontes, lagoas e cachoeiras, todas de águas abundantes. E eu livre.

… Quando digo “águas abundantes” estou falando da força de corpo nas águas do mundo. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. Lê a energia que está no meu silêncio. Ah tenho medo do Deus e do seu silêncio.


*Clarice Lispector*






19 abril, 2011

U de Uno, por Gilles Deleuze, ou sobre os universais e as singularidades: n - 1



U de Uno

CP: U, V, W, X, Y, Z. É o fim e vamos ser rápidos. U de Uno; V de Viagem; W de
Wittgenstein, X, o Desconhecido, Y vamos deixar para os neo-platonicianos e Z fecha e
ilumina. U é Uno.

GD: Uno.

CP: Sim, Uno. A Filosofia ou a Ciência cuidam do universal. No entanto, você diz que a
Filosofia deve manter contato com as singularidades. Existe um paradoxo?

GD: Não há paradoxo, porque a Filosofia, e até mesmo a Ciência, não tem nada a ver com
o universal. São idéias preconcebidas de opiniões. A opinião sobre a Filosofia é que ela
cuida do universal. E a opinião sobre a Ciência é que ela cuida de fenômenos universais
que podem se repetir. Mesmo se pegar a fórmula de que todo corpo cai, o importante não é
que todos os corpos caem e, sim, a queda e as singularidades da queda. Que as
singularidades científicas como as da matemática, da física ou da química, como ponto de
congelamento, sejam reproduzíveis, tudo bem, mas e daí? São fenômenos secundários,
processos de universalização. Mas a Ciência não cuida de universais, mas de
singularidades. Quando é que um corpo muda de estado e passa do líquido para o sólido,
etc.? A Filosofia não cuida do Uno, do ser, nada disso.Tudo isso é besteira! Também ela
cuida de singularidades. Seria preciso perguntar o que são as multiplicidades. As
multiplicidades são conjuntos de singularidades. A fórmula da multiplicidade é “n menos
1”. Ou seja, o 1 é sempre o que deve ser subtraído. Acho que há dois erros que não devem
ser cometidos. A Filosofia não cuida de universais. Há três universais. Poderíamos
relacioná-los. Há os universais de contemplação, as Idéias, com um I maiúsculo. Há os
universais de reflexão e os universais de comunicação. É o último refúgio da Filosofia dos
universais. Habermas gosta muito dos universais de comunicação. Isso implica definir a
Filosofia como contemplação, como reflexão ou como comunicação. Os três casos são
cômicos. É uma palhaçada. O filósofo que contempla, tudo bem, é muito engraçado. O
filósofo que reflete não é engraçado. É pior, porque ninguém precisa de um filósofo para
refletir. Os matemáticos não precisam de um filósofo para refletir, um artista não precisa
procurar um filósofo para refletir sobre a pintura ou a música. Boulez não precisa dele para
refletir sobre música. Dizer que a Filosofia é uma reflexão segura é desprezar a Filosofia e
o motivo de sua reflexão. Não precisa de Filosofia para refletir. Quanto à comunicação,
nem se fala! A idéia de que a Filosofia seja um consenso para comunicar a partir dos
universais da comunicação é a idéia mais divertida que já vi. A Filosofia não tem nada a ver
com comunicação. A comunicação se basta. É uma questão de opinião e de consenso de
opinião. É a arte das interrogações. A Filosofia não tem nada a ver. Como já disse, a
Filosofia cria conceitos. Não é comunicar. A Arte não é comunicativa, não é reflexiva, nem
a Ciência, nem a Filosofia. Não é contemplativa, nem reflexiva, nem comunicativa. É
criativa. Nada mais. A fórmula é “n menos 1”, eliminar a unidade, eliminar o universal.

CP: Então, os universais não têm nada a ver com Filosofia?

GD: Não, nada a ver.


................................


A cláusula

Claire Parnet [1994]: Gilles Deleuze sempre se negou a aparecer na TV. Mas atualmente
ele acha sua doença tão parecida com a petite mort, da canção de A. Souchon, que mudou
de opinião. Mantive, porém, sua declaração [“a cláusula”], feita em 1988, no início da
filmagem:

Gilles Deleuze [1988]: Você escolheu um abecedário, me preveniu sobre os temas, não
conheço bem as questões, mas pude refletir um pouco sobre os temas... Responder a uma
questão, sem ter refletido, é para mim algo inconcebível. O que nos salva é a cláusula. A
cláusula é que isso só será utilizado, se for utilizável, só será utilizado após minha morte.
Então, já me sinto reduzido ao estado de puro arquivo de Pierre-André Boutang, de folha de
papel, e isso me anima muito, me consola muito, e quase no estado de puro espírito, eu falo,
falo ...após minha morte... e, como se sabe, um puro espírito, basta ter feito a experiência da
mesa girante [do espiritismo], para saber que um puro espírito não dá respostas muito
profundas, nem muito inteligentes, é um pouco vago, então está tudo certo, tudo certo para
mim, vamos começar: A, B, C, D... o que você quiser.


15 abril, 2011

A loucura e a sabedoria e para além delas, E sobre dialógica e dialética do pensar-sentir-agir




O estado poético nos transporta através da loucura e da sabedoria, e para além delas.

A sabedoria pode problematizar o amor e a poesia, mas o amor e a poesia podem reciprocamente problematizar a sabedoria. O itinerário aqui proposto que conteria amor, poesia, sabedoria, comportaria, em si mesmo, esta mútua problematização.

Devemos fazer tudo para desenvolver nossa racionalidade, mas é em seu próprio desenvolvimento que a racionalidade reconhece os limites da razão, e efetua o diálogo com o irracionalizável.

A partir daí, podemos assumir, mas com plena consciência, o destino antropológico do homo sapiens-demens, que implica nunca cessar de fazer dialogar em nós mesmos sabedoria e loucura, ousadia e prudência, economia e gasto, temperança e "consumação", desprendimento e apego.

Tudo isso implica endossar a tensão dialogal, que mantém permanentemente a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade.

Edgar Morin


Na dialética, como se sabe, o formato é a tríade tese, antítese e síntese. A síntese é a resolução, o resultado do embate entre a tese e a antítese. Desse modo, pode-se dizer que a contradição se resolve por meio de uma espécie de negociação que leva a um acordo. O choque entre os opostos é solucionado pelo surgimento de uma terceira figura. Já na dialógica não é possível chegar a uma resolução, pois as características dos contrários tornam o confronto inegociável e por isso eles precisam conviver num diálogo sem fim. Um dos critérios, talvez o mais eficaz, para fazer essa diferenciação é a duração do diálogo. Na dialética ele é temporário, tem início meio e fim. Na dialógica, precisa continuar indefinidamente.

Morin assim define a dialógica: “Unidade complexa entre duas lógicas, entidades ou instâncias complementares, concorrentes e antagonistas, que se nutrem uma da outra, completam-se, mas também se opõem e se combatem. (...) Na dialógica, os antagonismos persistem e são constitutivos das entidades ou fenômenos complexos”.

Trata-se, portanto, de opostos ao mesmo tempo antagônicos e complementares, como os princípios masculino e feminino, a razão e a emoção, ou, como escreveu Nietzsche em seu primeiro livro o apolíneo e o dionisíaco. Para esse filósofo, a cultura da Grécia clássica comportava dois pólos. O apolíneo seria o controlado, o racional, da ordem, da contenção. O dionisíaco seria o bárbaro, da paixão, do desejo incontido. Essa interação produz conflitos, mas também gera criatividade: o apolíneo precisa do dionisíaco e a recíproca é verdadeira. Ou, nas palavras de Pascal: “Nem a contradição é a marca da falsidade, nem a não-contradição é a marca da verdade”.

Em suma, a dialógica é um modo de fazer com que os paradoxos não apenas sejam admissíveis, mas de perceber as idéias novas que muitas vezes deles emergem. É o que diz Gérard Lebrun, para quem o objetivo da dialógica não é solucionar contradições, mas sim tornar pensáveis os paradoxos: “Pascal é ‘dialético’ somente na aparência e numa primeiríssima aproximação. Certamente, sua estratégia é de tal ordem que combina proposições que parecem excluir-se”.

Mas lidar com paradoxos (e não há nada mais paradoxal do que o ser humano e suas sociedades) é coisa de que não gostamos, porque nos confronta com a inevitabilidade da dúvida, da incerteza, da dificuldade de controle. Nossa cultura predominantemente cartesiana, iluminista, nos convenceu de que podemos dominar a natureza, inclusive a nossa própria. E nos forneceu incontáveis instrumentos de auto-engano para manter-nos convencidos disso, mesmo quando somos (como acontece diariamente) postos diante de evidências de que esse domínio está muito longe de ser tão completo quanto desejamos. Com efeito, não tem sido outra a função da chamada “idéia de progresso” da modernidade. 

Entre ser sempre fortes ou sempre fracos, optamos ingenuamente pela primeira hipótese: queremos ser sempre fortes, controladores, racionais e “exatos”, mesmo quando tudo à nossa volta nos mostra que somos fortes e fracos — não uma coisa ou outra —, e que há momentos e circunstâncias em que é preciso aceitar o erro, a aleatoriedade e a ambigüidade. Aceitá-los e reconhecer que eles são meios de autoconhecimento, que nos ensinam a tolerância (não confundir com permissividade), a moderação (não confundir com auto-repressão) o senso de ridículo (não confundir com timidez) a firmeza de posições (não confundir com narcisismo) — enfim, a sabedoria de viver, que inclui isso tudo mas a nada disso pode ser reduzida.  

Humberto Mariotti



Posts relacionados:



12 abril, 2011

Deserto, luzes, beleza e um fremen na água(!): Kadesh.


An old post... revisited:






Alice Ruiz e " ... amo esse reino dos sonhos onde você ainda cresce... "











amo esse reino dos sonhos 
onde você ainda cresce

essa luz nos meus olhos 
onde você aparece

estar ainda viva que assim 
a vida não te esquece

Alice Ruiz












Florbela Espanca e a "saudades... sei lá de quê"!




O meu mundo
não é como o
dos outros,
quero demais,
exijo demais,
há em mim uma sede
de infinito,
uma angústia constante
que eu nem mesmo
compreendo,
pois estou longe
de ser uma
pessimista;
sou antes
uma exaltada,
com uma alma intensa,
violenta,
atormentada,
uma alma que não se
sente bem onde está,
que tem saudades...
sei lá de quê!

Florbela Espanca



11 abril, 2011

Sem Nada, por Cristian Ribas





Sem Nada

Na ciência
exata,
na palavra
abstrata,
no retalho
das horas
ou no inteiro
do meu corpo,
te quero.

Como meu
inverso
complexo
ou o sonho
mais simples.
Como meu zelo
concreto
ou meu oceano
deserto.

Se você
desiste,
eu insisto.
Se você
se curva,
eu me levanto.
Se você
se entrega,
eu me rebelo.
Se você duvida,
eu acredito.
Se você teme,
eu confio.

Não que eu seja
melhor,
mas pra não
acordar
com o
arrependimento
batendo
em minha
porta
e ainda
te carregar
aqui dentro
sem poder
fazer nada.

Pois você vicia
e não quero
cura.
Você fascina
e não tenho
domínio.
Tenho apenas
meus desejos,
que em segredo,
colocarei
dentro de ti.

Cristian Ribas

Me repara, por Cáh Morandi



Me repara

Acho engraçada a forma
que falas das coisas tuas,
de teus planos,
como me colocas em teus sonhos
mesmo sem malícia alguma;
esse teu
diz-não-diz que me ama
que escapa nas entrelinhas
dos teus gestos e de teu olhar;
é lindo como você
me nega e me observa
sem perceber;
é lindo
como você se entrega
e não repara eu me render.

(Cáh Morandi)




Clarice Lispector sobre a aparência e a essência... e um breve comentário


Recebi de uma amiga no orkut:

Viver em sociedade é um desafio porque às vezes
ficamos presos a determinadas normas que nos
obrigam a seguir regras limitadoras do nosso
ser ou do nosso não-ser...
Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo,
duas personalidades: a objetiva, que todos ao
nosso redor conhece; e a subjetiva...
Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa
que se perguntarmos - Quem somos?
Não saberemos dizer ao certo!!!
Agora de uma coisa eu tenho certeza:
devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar
pelo que somos e não pelo que parecemos ser...
Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência
E você... O que pensa disso?
Que desafio, hein?

Clarice Lispector




Respondi assim:

Pois, minha querida...

A resposta a essa questão proposta
por Clarice Lispector no seu post,
pode ser dada em uma coleção
com 10 volumes; ou mais... rsrsrsrs

Tamanha a complexidade da pergunta
e da resposta: o dilema existencial de todos
que olham para si próprios e para os outros
com olhar interrogativo.

Penso que as normas servem de orientação
e busca de uma certa civilidade e 'devem
ser seguidas' à risca, enquanto servem e
nos fazem sentir bem e aceitos, pertencendo...

No mais, acho que podem e devem ser
subvertidas e questionadas infinitamente...
para instituirmos diferença e singularidade.

Nem sempre dizer 'bom dia' e sorrir é
uma ação educada, cordial e simpática... rs

Sou plenamente a favor de todos os processos
que buscam a singularidade e que propiciem
escapar dos processos de subjetivação
dominantes.

Com isso estou dizendo que muitas das
normas que engessam e enquadram
'jeitos de ser' e reproduzem comportamentos
socialmente aceitos e muitas vezes hipócritas
merecem as minha discordância e engajamento
não militante.

Também quer dizer que, eventualmente,
dizer 'Bom Dia' pode ser uma maneira
querida de desejar algo... singular.

Discordo da noção de aparência e essência
que a nossa humanamente divina e
divinamente humana escritora cita.

A dita aparência está na essência
e a essência está na aparência...
imbricadas e misturadas de tal forma
que é muito difícil chegar-se a uma
separação nítida e conceitual de ambas.

Isso supondo-se que existam como realidades
puras e separadas, já que, no caso da essência,
por exemplo, está embutida uma noção de
imutabilidade e de identidade, ou seja, a essência
é SEMPRE igual a si própria.

Ainda sobre o que é objetivo e subjetivo, 
desde os ensinamentos de Deleuze,
Foucauld, Guattari e outros,
sabemos que não é possível separar 
esses "conceitos" de maneira
a dar a eles uma sustentabilidade
com caráter de verdade.
Ou seja, há "uma fora do dentro"
assim como há um
"dentro do fora".

O que é dito objetivo
vai se tornando cada vez menos
objetivo a partir do momento que dele
nos aproximamos atomicamente, ou seja,
quanto mais 'perto' chegamos, 
menos objetivo se mostra o objeto.
Assim, um bloco de aço
é cheio de espaços vazios.

O que é dito subjetivo também
sofre mutações a medida em que vamos 
nos aproximando e, nessa aproximação,
nos é mostrada sua paradoxal existência
objetiva e métrica e molecular.

Essa concepção usual de "objetivo" 
está ligada a idéia de solidêz 
e materialidade.
A concepção de "subjetivo" está
ligada a idéia de imaterialidade.

Essas distinções são meramente
didáticas e técnicas - importantes
nesse sentido - mas desprezíveis 
quando se fala de pessoas, afetos,
comportamentos, idéias, ações
e coisas dessa ordem que envolvem
a nossa humanidade e, creio eu, 
nossa divindade (aqui numa
referência inequívoca ao que
se costuma chamar de espiritual).

Quem já leu poesia e assistiu
àlguns filmes, sabe que
nessa linguagem da poesia e do cinema
esses conceitos caem por terra rapidinho.

Quem já amou, quem perdeu alguém que ama 
- pela vida ou pela morte- 
sabe quão objetivos são esses afetos
e os sentimentos a eles ligados..
quando supunha, em algum momento...
que eram subjetivos e inomináveis.

Enfim, uma pequena resposta
incompleta e simplificada
para uma grande questão, 
talvez não tão bem formulada... rs

Obrigado por enviar.
Beijo grande.


09 abril, 2011

Esperanto, por Cristian Ribas




Esperanto

Escrevo pra te alcançar.
Simplesmente,
porque meus olhos não te vêem
mas minha alma te espera
lá na frente.
Sei que é incoerente
traçar nossos planos,
herdar o abandono
e te dar,
de presente,
minha singela companhia.
Mas meu coração
é meu guia.
E mesmo na excassez desses dias,
na razão desequilibrada
que te faz sofrer
por viver na fantasia
o que não te pertence.
Como gostaria
que você entendesse
que não há como desistir,
pra onde correr,
tentar fugir
de quem você é.
Se ainda estamos de pé
é porque temos um valor
que a moeda não paga
e que o amor
não é uma estrada
cercada
só por dor e sofrimento.
E no lapso do tempo,
leio teus pensamentos
em esperanto,
como um canto
que você conhece
mas ainda não sabe
a tradução.

Cristian Ribas


08 abril, 2011

Paulo Leminski e "a dor e a delícia de experimentador"











ver é dor
ouvir é dor
ter é dor
perder é dor
só doer não é dor
delícia de experimentador
(Paulo Leminski)



Edgar Radins e a "rima com você e a palavra amor..."





É na noite escura que ando
e onde me sinto bem.
Vejo tua luz
e meus passos te seguem.

Teu rosto
me rouba um sorriso
toda vez
que olhas prá mim.

Te descobri
em meus versos
e fiz uma rima com você
e a palavra amor.


O amor sem você
é como não amanhecer
é como um suspiro
sem razão de ser.

Só sei que ao te achar
eu me perdi.
E me perder foi a forma
mais linda de te encontrar.


Edgar Radins




07 abril, 2011

Memória, por Carlos Drummond de Andrade



Memória, por Carlos Drummond de Andrade 


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.




Além do Tempo , por Cristian Ribas






Além do Tempo

É difícil voar, enquanto o sol está se pondo
e a noite chega sem avisar.
Na escuridão, ouço teu canto ecoando
em minha mente, cessando meu pranto,
me mantendo aquecido desenhando um sorriso
onde repousava tristeza.

Sei que é preciso te deixar partir.
Na curva do horizonte, não vejo tuas formas,
não sinto teu aroma a perfumar meu instante.

Mas congelo o hoje, pra viver avante.
Meu amor vai além do tempo. E, mesmo no caos
da solidão, me sinto seguro, pois num ponto
futuro, te encontrarei. Vou fortalecer minhas asas,
estudar os ventos e adormecer tranqüilo.

Pois, quando amanhecer minha luz, cruzarei o infinito.
E será o momento mais bonito de nossos dias.

Cristian Ribas

01 abril, 2011

Repercussões das declarações do deputado, ou sobre preconceito, auto-exame e informação e conhecoimento





As declarações do De(s)pu(do)-t-(r)ado Bolsonaro* dão pano pra 
manga.
Mais do que discutir ou comentar declarações infames desse citado 
homem Público, sim, são declarações preconceituosas, quero falar 
sobre essa grande prática disseminada em TODOS os cantos do 
planeta. 

Pelo começo.
O que é preconceito?

Preconceito wikipédia:

De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma 
generalização superficial, chamada "estereótipo". Exemplos: "todos 
os alemães são prepotentes", "os americanos formaram grandes 
grupos arrogantes", "todos os ingleses são frios". Observar 
características comuns a grupos são consideradas preconceituosas 
quando entrarem para o campo da agressividade ou da discriminação, 
caso contrário reparar em características sociais, culturais ou 
mesmo de ordem física por si só não representam preconceito, elas 
podem estar denotando apenas costumes, modos de determinados 
grupos ou mesmo a aparência de povos de determinadas regiões, pura 
e simplesmente como forma ilustrativa ou educativa.

Observa-se então que, pela superficialidade ou pela estereotipia, 
o preconceito é um erro. Entretanto, trata-se de um erro que faz 
parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja ele tem 
uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento 
fundamentado num argumento ou raciocínio.

Aurélio:

preconceito . [De pre- + conceito.] S. m. 1. Conceito ou opinião 
formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos 
fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se 
levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. P. ext. 
Superstição, crendice; prejuízo. 4. P. ext. Suspeita, 
intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, 
religiões, etc.: O preconceito racial é indigno do ser humano.

Michaelis:

1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos 
adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido 
antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 
Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se 
pratiquem. 4 Sociol Atitude emocionalmente condicionada, baseada 
em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou 
antipatia para com indivíduos ou grupos. P. de classe: atitudes 
discriminatórias incondicionadas contra pessoas de outra classe 
social. P. racial: manifestação hostil ou desprezo contra 
indivíduos ou povos de outras raças. P. religioso: intolerância 
manifesta contra indivíduos ou grupos que seguem outras religiões.

Assim, antes de mais nada e para ficar bem definido, parto da 
idéia de que TODOS os seres humanos tem preconceitos. Isso me 
parece inquestionável. 
Assim como também me parece inquestionável que TODOS os seres 
humanos possuem ALGUM tipo de preconceito e não TODOS eles.

Como vimos acima, se as idéias preconcebidas (eu gosto muito de 
separar o prefixo, assim: pré-concebidas) são baseadas em 
superstição, crendice e idéias de referências e em falta de 
informação e/ou ignorância, cabe algumas perguntas:

- Como podemos nos livrar deles?
- Como abrir mão daquilo que está pré, ou seja, antes, do 
conceito?
- Como deixar de só julgar...mas perceber e se afetar por idéias e 
conceitos que já definiram o que está sendo?
- Como descobrir quais são os nossos preconceitos?
- Como discutir os preconceitos do outro e tentar revertê-los para 
que sejam novos conceitos para ele?

Todas essas perguntas então interligadas e transversalizadas por 
questão múltiplas que dificultam as respostas e, mesmo que queira 
comentar sobre isso, não tenho a prepotência de respondê-las todas 
e "fechar a questão" do preconceito, até porque esta é uma questão 
que está sempre em aberto.

Uma das respostas: Educação!

Outra: questionamento.
Outra: contextualização.
Outra: auto exame profundo e permanente: auto-conhecimento.
Outra: informação e raciocínio crítico.
Outra: flexibilidade.
Outra: saúde (mental).
Outra: aprender a compartilhar, discutir e confrontar
desnaturalizando o cotidiano..

Assim como as perguntas, as respostas também estão interligadas e 
transversalizadas por múltiplos fatores, o que caracteriza sua 
complexidade... e a consequente dificuldade em "dar conta" da 
temática.

Contextualizando as palavras do despudorado deputado e exercitando 
o questionamento de valores de referência e sua práticas:

Ter funcionários negros e/ou um cunhado negro (essa palavra já é, em 
si própria, um representante do preconceito... já que "negro" tem 
conotações pejorativas, ligadas social e historicamente à 
exploração da imagem, da pobreza e ligadas ao trabalho escravo, 
bem como a uma suposta e historicamente produzida supremacia  e 
superioridade dos "de pele clara") ou afro-descendentes (uma 
palavra recente que visa combater institucionalmente o 
preconceito) NÃO É INDÍCIO de falta ou superação do preconceito 
racial.

O deputado disse: 
-"Meu filho namora quem quiser, desde que não seja um homem."

Ora, faltava só ele dizer que seu filho namora quem quiser, desde 
que não seja negra (se dissesse negro, seriam DOIS preconceitos).

Acho que ele não tem "peito" para explicitar os dois 
concomitantemente (já que ele poderia namor qualquer MULHER, desde 
que ela não tivesse o comportamento da preta Gil - e aqui está a 
dissimulação do preconceito, na medida que se drigige para outro 
objeto, o comportamento dela e não sua negritude).

As expressões "bitoquinha em macho", "ativo e passivo", "joga nas 
duas" e gayzinho", veja abaixo, já falam por si só, baste ter 
olhos de ... Ver. 

Sobre o Kit escolar contra a homofobia, cabe dizer algumas coisas:
Informação, educação, conhecimento e contextualização são 
fundamentais para combater preconceitos. Assim, informar as 
crianças e adolescentes sobre bissexualidade, transexualidade e 
homossexualidade é o mesmo que também discutir gênero, 
conjugalidade, casamento, direitos civis, relçaões estáveis, laços 
afetivos,  homoafetividade e homoerotismo (por que não existe a 
expressão heteroafetividade e heteroeroticidade?). Ou seja, é 
fazer uma discussão sobre SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS.
Abordar esses temas nas escolas é colocar em discussão a 
supremacia do masculino sobre o feminino - a chamada hegemonia 
masculina, que tem algumas outras postagens nesse blog); é a
possibilidade de conhecer que não existe só uma ou duas formas de 
viver a própria sexualidade e a identidade de gênero; é também 
abrir as portas para que se possa falar sobre as diferenças em 
relação aos própios heterosexuais, que 
NÃO PENSAM, NÃO DESEJAM,
NÃO FANTASIAM, NÃO VIVEM O PRÓPRIO CORPO 
E NÃO TEM CARACTERÍSTICAS 
PSÍQUICAS IGUAIS ENTRE SI, sejam homens (meninos, garotos) ou 
mulheres (meninas, garotas).

Freud já nos ensinou que a vida sexuada e sexual (no sentido não 
genital) já começa nos primeiros dias de vida!
Ora, e é na primeiira infância e na adolescência, 
com as mudanças hormonais e a chegada das "características sexuais 
secundárias" que a identidade de gênero se desenvolve, cria 
materialidade e se concretiza (não que ela esteja definitivamente 
pronta e seja imutável para o resto da vida).

Deleuze e Guattari nos ensinam que existem tantas formas de ser 
homem e de ser mulher quanto são o número de pessoas que habitam 
esse planeta!
Ou seja, mesmo entre os heterosexuais existem milhões de 
diferenças.
Óbvio.
Por que seria diferente entre os homoafetivos e 
cia?

Aqui um parênteses: claro que tenho minhas dúvidas de que a 
maioria dos professores consigam fazer esse trabalho de forma, por 
assim dizer, imparcial, ou dito de outra forma, sem sucunmbir aos 
próprios preconceitos. A condição salarial - de trabalho - e de 
auto-estima profissional dos professores também atravessa suas 
práticas, condições de estudo, aprimoramento pessoal e 
autoconhecimento.

Já que TODOS possuem algum preconceito, certamente falar desses 
temas significa estar mechido, afetado, instigado, estimulado a 
observar a própria sexualidade e os próprios valores. Uma tarefa 
nem sempre fácil e da qual não se sai incólume. 

Mesmo entre os profissioanis da Psicologia (minha área) e da 
Psiquiatria e de outras formações em saúde (médicos de todoas as 
especialidades, enfermeiros, fisioterapeutas, por exemplo) 
encontro desinformação, desconhecimento e preconceitos. Muitos não 
tem a mínima idéia, por exemplo, de como um transexual ou um homossexual vive sua 
relação com o corpo, suas fantasias sexuais, sua percepão 
identitária, suas relaçãos de identificação com os pais, pai e mãe 
ou figuras substitutas; de como vive sua própria percepção de 
diferença (dos outros, meninos e meninas, "dominantes").
E detalhe: não que TODOS tenham que saber TUDO ...
Evidente.

Quero dizer, com isso, que existe, mesmo entre os profissioinais 
da saúde, um grande e importante despreparo para lidar, abordar, 
entender, conhecer a realidade em pauta. Por que com os 
professores seria diferente? Ou mais fácil estar preparado?

Voltando às declarações do deputado des-infor-mado...

Informar-se, conhecer, estudar, enfim... sobre os temas que compõe 
o kit a ser apresentado aos alunos NÃO ESTIMULA HOMESSEXUALISMO, 
TRANSEXUALISMO E BIXESSUALIDADE.

Dizer isso é o mesmo que dizer que quem estuda o catolicismo vai 
ser estimulado a ser catáolico e mudar de religião, supondo-se que 
o estudante fosse, por exemplo, espírita, evangélico, budista. Ateu.

Também é o mesmo que dizer que quem estuda medicina fica doente e 
desenvolve, senão todos, muitos dos sintomas que estuda.
E assim, pateticamente, pode-se fazer cogitações que variam ao 
infinito.
Ora, ora, ora...

Mais um parenteses: claro que o estudo (e a prática) religioso (a) 
é censurado (a) e combatido (a) em muitos países.
Por exemplo, na Índia e na Indonéia (isso sem falar nos países 
muçulmanos - que estão desabando nos seus governos), países de 
maioria não cristã ( leia-se aqui católica), os praticantes dessa 
religião são combatidos, discriminados e, muitas vezes, perseguidos.

Na índia, muitos cristãos católicos e mesmo evangélicos (sim, a 
Assembléia de Deus e suas variações já chegou lá) são combatidos 
porque seus comportamentos diferem dos hinduístas, 
majoritariamente dominantes, porque eles, por exemplo, vão uma vez 
por semana ao templo (Igreja - na Missa ou no Culto) e, isso, para 
muitos, quer dizer que eles tem menos fé, já que, o usual, no 
Hinduísmo, é a prática de rituais e visitas, senão diárias, pelo 
menos algumas vezes por semana.
Cristãos e budistas também são discriminados por sairem do sistema 
de castas, ou seja, aqueles que seriam os intocáveis, harijans e 
dalits passam a ter outra inserção social, política, pública. 
Enfim... outra vida que não a que responde ao status quo 
dominante.

Voltando ao Kit a ser distribuido nas escolas...

Penso que a idéia do kit é ótima na sua intenção. Ponto.
Mas, o problema, me parece, está exatamente na concepção de 
DISTRIBUIR e de KIT.

Distribuir "a mesma coisa para todo mundo" (ainda que, imagino eu, 
sejam diretrizes, orientações... sujeitas a aprimoramento e 
adequação em cada escola e por cada professor de acordo com as 
suas características e a dos seus grupos de alunos) é complicado e 
já guarda um certo tipo de estereotipia.

Kit é uma palavra altamente questionável exatamente no mesmo 
sentido.
Um Kit vem pronto. Está definido antes de chegar aos seus 
destinatários. É, portabnto, um outro pré!

Será um kit - ou todos eles - um preconceito?

Claro que não!

O que será preconceituoso será a forma impensada, pragmática, acrítica, 
descontextualizada com que será usada, ou pior, descartada e 
inutilizada.
O que será preconceituoso, será a forma de abordagem que os 
professores usarem ao trabalhar com seus alunos.
Se falarem SÓ nos três temas que compõe o tal kit... fim.
Preconceito.
Tudo de novo.

Assim, o tema principal que transcorre nesse post é o devir, ou 
seja, aquela energia, vibração, ação, idéia, prática, exercicio, 
experimentação que está à margem - na periferia, fora do núcleo - 
do que é dominante, mas que é, também e simultaneamente - outro 
paradoxo - nuclear-atômica à existência da nossa humanidade não 
pessoalizada e que está nos caminhos que tentam instaurar alguma 
singularidade, ou seja, produção de diferença.

Ainda importante dizer que a constatação de que todos temos 
preconceito não é uma defesa - do seu uso - e nem uma absolvição - 
das consequencias pessoais, afetivas, relacionais, jurídicas, 
existenciais - da sua prática.
Não interessa condenar o deputado e nem absolve-lo. Ele é um porta 
voz. 
Condenável é sua atitude - demonstrada - de não re-ver suas 
posições.

Só para voltar ao início:

Dizia eu sobre comentar "essa grande prática disseminada em TODOS 
os cantos do planeta", a prática do preconceito:

Valores de refência (aqueles que dão bases; servem de substrato; 
fornécem território; apontam linhas de raciocício e geram 
conceitos e os reproduzem) todos possuimos. E muitos. Para tudo.

Temos idéias do que seja ser homem. mulher, negro, branco, 
amarelo. Europeu, asiático, americano.
Temos idéia do que seja ser (um bom e um mau) profissional, 
pessoa, cidadão, vizinho, pai, mãe, irmão, tio.
Temos idéias religiosas, familiares, históricas e sociais sobre 
convivência, bondade, maldade, provocação, falta de educação, 
inteligência, burrice, sexo, desejo, consumo, ecologia.
Temos idéias sobre ser casado, solteiro; sobre tristeza, solidão, alegria, felicidade... enfim.
Temos idéia sobre QUASE TUDO.

Alguém diria?
-Vai nascer um heterozinho! (?)

A questão que me interessa 
não é TER as idéias nem ESTAR NA POSSE delas.

O que me interessa é o que fazemos e não fazemos com elas e a 
despeito delas.

Ainda poderia escrever sobre o grande e importante jeito
através do qual 
"NÃO TER PRECONCEITOS" 
virou lei, moda e palavra de ordem, ou seja, sobre as estratégias 
nem sempre conscientes através das quais os preconceitos se dissimulam.
E sobre a quase inexistente relação entre homossexualidade e pedofilia.
Mas vou deixar essa para outra ... postagem.

Cancei.
Agora vou visitar uma feira internacional de artesanato, onde 
expositores e trabalhadores de mais de vinte países estão 
comercializando seus produtos.
Mas não só seus produtos.
Vendem (sem pagamento financeito) seus hábitos, sua língua, sua 
cultura, seus jeitos, seus sorrisos, sua seriedade, seus olhares, 
seus corpos (movimentos, jeitos de andar, se mexer, 
movimentar...).

Com cada um deles e no encontro entre nós, as referências, minhas 
e deles, estarão presentes.
Gêneses de preconceitos-os-mais-variados estarão
num estado se semi-invisibilidade, em mim  e neles.
E a cada um desses encontros e desencontros está uma possibilidade de 
trabalhar, por assim dizer, as idéias préconcebidas e as práticas 
de busca de diferença.

Isso quer dizer que o preconceito - de todos os tipos e em todas 
as suas nuances - está ligado ao passado (está pronto ANTES DO 
ENCONTRO).
E quer dizer, também, que está no presente, igualemente a cada 
encontro, porque atualiza sua virtualidade e se manisfesta no 
aqui-agora-comigo-entre nós.

Um desafio constante, sempre renovado e atual.

Avante.


*Bolsonaro afirma que Kit do MEC estimula pedofilia e 
homossexualismo
01/ Abril 2011
O Deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) acusou o Ministério de Educação 
(MEC) de incentivar o homossexualismo. O MEC vai distribuir nas 
escolas um kit contra a homofobia contendo vídeos e guias de 
orientação. Nos filmes são tratados temas como a bissexualidade, a 
transexualidade e a homossexualidade. A entrega do kit nas escolas 
públicas do Brasil foi aprovada pela Unesco.
Unesco é favorável à distribuição de kits contra homofobia nas 
ecolas

“As crianças estão formando o caráter e o material vai incentivar 
relações homossexuais”, afirmou o deputado.
Devido a seu currículo, Dilma deveria ter Beira-Mar como Vice.

29/03/2011 - 18:44   
Bolsonaro diz que confundiu perguntas em programa de TV
Acusado de ter agido de forma racista, deputado afirma que não 
ouviu pergunta corretamente, mas reafirma críticas a Preta Gil e à 
homossexualidade
Gabriel Castro

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem um longo histórico 
de declarações preconceituosas. Nesta segunda-feira, ele voltou à 
carga no programa CQC, da TV Bandeirantes. O deputado respondia a 
uma sequência de perguntas de telespectadores. A última delas foi 
da cantora Preta Gil. Ela queria saber o que o parlamentar faria 
se o filho dele namorasse uma negra. Bolsonaro reagiu: "Preta, não 
vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro 
esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não 
viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”.

A reação foi imediata. Preta Gil disse que vai processar o 
deputado. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou que 
pedirá a cassação do parlamentar. O deputado Jean Wyllys afirmou 
que pedirá ao Conselho de Ética da Câmara que apure o caso. Nesta 
terça-feira, Bolsonaro conversou com jornalistas no Congresso 
Nacional. Não parecia estar preocupado com a possibilidade de ser 
punido. Impenitente, disparou outras frases de teor 
preconceituoso, intercaladas por risos de quem parece gostar do 
efeito de suas declarações. Leia trechos da entrevista.

Qual foi o contexto da resposta do senhor que gerou toda essa 
controvérsia? Eu não vou dizer que a TV Bandeirantes editou. O 
erro, com toda a certeza, foi meu. Foi uma bateria de perguntas 
sobre cotas e homossexualismo. Todas as perguntas foram gravadas, 
eu sentei na frente de um laptop e respondia para o laptop. Quando 
entrou a Preta Gil, já preparei a resposta para nem ouvir o que 
ela estava dizendo e dar um "cacete" nela. O que eu entendi foi o 
seguinte: "Se o seu filho tivesse um relacionamento com um gay, 
como você se comportaria?"

Então, como o senhor reagiria se tivesse um filho que namora uma 
negra? Aceito meu filho ter relacionamento com qualquer mulher, 
menos com uma com o comportamento da Preta Gil. Pelo que eu já vi 
em jornais aí, ela já foi tudo.

Na resposta que deu durante o progama, o senhor também criticou a 
família de Preta Gil. Por quê? Quem é o pai dela? Gilberto Gil. 
Aquele que vive dando bitoquinha em macho por aí. Um ministro de 
estado dando bitoquinha em macho!

Então o problema do senhor é com a homossexualidade, não com os 
negros? Não tenho nada a ver com racista. Tem um montão de 
afro-descendente trabalhando comigo no Rio de Janeiro. Eu não 
quero é que os boiolas coloquem no currículo escolar a disciplina 
de combate à homofobia que, na verdade, estimula o 
homossexualismo. Meu filho namora quem quiser, desde que não seja 
um homem. Você ficaria feliz de ver seus filhos homossexuais? Eu 
não aceito um filho homem ter um relacionamentro com outro homem, 
acabou. É direito meu. Você acha que se a minha mulher engravidar 
eu falo "Meu amor, se nascer um gayzinho, vai ser o orgulho da 
família?"

O senhor teme ser punido? Eu estou entrando agora com uma 
representação no Conselho de Ética, para que eu possa ser ouvido 
lá e acabe com essa polêmica. Ou eu vou deixar que um deputado 
homossexual, não sei se é ativo ou passivo, queira crescer em cima 
de mim?

O senhor se refere a Jean Wyllys? Não sei. Eu falei um deputado 
homossexual. Não sei se é ativo, passivo ou joga nas duas.
Ele é o único homossexual assumido do Congresso. Ele é seu amigo?
Não. O senhor já escapou de várias punições por declarações 
semelhantes.  Mais de 20 vezes.
Acha que agora será igual? Meu anjo da guarda é forte, porque eu 
estou sempre do lado da verdade.