02 junho, 2011

Salman Rushdie (fragmentos de Os filhos da meia-noite)

















"... Para dizer a verdade, quando o relógio batia meia-noite. 
Os ponteiros se juntaram, numa saudação respeitosa, no 
instante em que nasci."


"A maior parte do que acontece em nossa vida acontece 
em nossa ausência: mas é como se eu tivesse descoberto, 
em algum lugar, o truque pelo qual preencho as lacunas do 
meu conhecimento, de modo que está tudo na minha cabeça, 
até o último detalhe, até a maneira como a névoa parecia
atravessar o ar da manhãzinha... ... tudo, e não somente 
as poucas pistas com que a gente se depara quando, por exemplo, 
abre um velho baú de lata que deveria ter permanecido coberto 
de teias de aranha e fechado." 


" ... pois havia ficado claro que não choveria. A terra estava 
rachando. A poeira devorava a beira das estradas, e em certos 
dias inúmeras fissuras escancaravam-se no meio de cruzamentos...
... um sikh da loja de concertos de bicicletas tivera o turbante 
arrancado da cabeça no calor de uma tarde, quando seus cabelos, 
sem motivo algum, haviam ficado em pé de repente".


(Salman Rushdie, em Os filhos da meia-noite")

(Sikh é um termo que designa os seguidores de Baba Nanak, o primeiro 
guru dessa nova religião (Sikh),- por ele inventada - que se opunha 
ao islamismo e ao hinduísmo e buscou, numa estranhíssima junção, 
aliar fragmentos de ambas as religiões.
Um dos preceitos, por assim dizer, externos, dos homens sikhs é o uso 
de turbantes para proteger e guardar os cabelos que nunca devem 
ser cortados).




"Agora, curvado sobre papéis em minha poça de luz,
não quero mais ser outra coisa senão o que sou.
Quem, o que eu sou? Minha resposta: sou a soma
total de tudo que aconteceu antes de mim, de tudo
quanto fui, vi, fiz, de tudo que me foi feito.
Sou todo-mundo e tudo cuja inserção-no-mundo
afetou e foi afetada pela minha. Sou qualquer coisa
que acontecer depois que eu for e que não teria
acontecido se eu não tivesse vindo.
Tampouco sou particularmente excepcional nesse
aspecto: cada "eu", cada um dos agora mais de
seiscentos milhões de nós, contém uma multidão
semelhante.
Repito pela última vez: para me compreenderem,
terão de engolir um mundo".



"... mas talvez tudo isso fosse ilusão, nascida de
minha tentativa de prendê-lo nos fios de minha
história, através de um exercício de força de vontade.
Houve ilusões em minha vida; não pensem que não
tenho consciência disso. Estamos chegando,
entretanto, a uma época em que as ilusões ficaram
para trás; como não há alternativa, tenho que
finalmente registrar , no preto e no brando, o clímax
que venho evitando... Fragmentos de memória: não é
assim que um clímax deve ser escrito. Um clímax deveria
ondular em direção ao seu pico himalaico; mas o que me
sobra são fragmentos, e sou obrigado a espinotear na
direção de minha crise como um fantoche de cordões
partidos. Não foi assim que planejei; mas talvez a
história que se termina nunca seja a que se começou."


(Salman Rushdie, em Os filhos da meia-noite")



"As Ilusões da Desilusão".
(expressão usada por Edgar Morin)




Oingo Boingo -Dead Man's Party:


I'm all dressed up with nowhere to go
Walkin' with a dead man over my shoulder (2x)

Waiting for an invitation to arrive
Goin' to a party where no one's still alive (2x)

(Chorus)
I was struck by lightning
Walkin' down the street
I was hit by something last night in my sleep
It's a dead man's party
Who could ask for more
Everybody's comin', leave your body at the door
Leave your body and soul at the door

Don't run away it's only me

All dressed up with nowhere to go
Walkin' with a dead man
Waitin' for an invitation to arrive
With a dead man ... Dead Man

Got my best suit and my tie
Shiny silver dollar on either eye
I hear the chauffeur comin' to my door
He Says there's room for maybe just one more

(Chorus)

Don't run away it's only me
Don't be afraid of what you can't see
Don't run away it's only me

2 comentários:

Kátia disse...

O fato de não recorrer a fórmulas desgastadas, faz com que você se diferencie de tantos milhares de outros. Não é exagero meu, como vivo ouvindo (grrrrrrrrrrr... ) Hahahahahahahahaha, exagero é esta sua não aceitação das belezas que as pessoas vêem em você. Uma evidência pra lá de confirmada: você contamina de uma maneira gostosa com seu conhecimento e seu gosto apurado.
Essa música agradou os meus ouvidos. Tem uma melodia forte.
.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Eu aceito as belezas, sim. Que os outros...
Ponto.

...

Mas, acontece, também...
que gosto de críticas.

Eu achei que você ia comentar o texto do Salman,
mas, eu roubei a cena... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Ahhhhhhhh e eu adoro essa música,
claro, senão... não estaria aqui.