Nesse blog é comum as coisas não estarem nos lugares
que deveriam (ou que se espera que estejam).
Muitas vezes são/estão deslocadas... mudam conforme o contexto.
Ficam aqui e lá... e também mais além.
Ficam ou param - temporariamente - em mais de um lugar ou em algum lugar específico.
Nesse natalvai ser assim também.
Ou... seria...
NesseNatalvai ser assim também?
Você escolhe.
Você decide.
Natal ou natal?
As letras maiúsculas são usadas
nos nomes de épocas históricas e datas oficiais.
Então o correto é: Natal.
Feliz Natal! (Uma data oficial que prescreve comportamentos oficiais)
Veja um exemplo de como essa oficialidade nos chega e como ela é produtora de igualdade:
Vídeo do Movimento Familiar Cristão
Sim, o Natal tem esse poder de espalhar um clima de sonho no ar: as luzes. a decoração, as cores, as flores, os presentes... e os olhares para tudo isso... são mesmo encantados.
"Tempo de amor"? (Só no Natal?) "Todo mundo é igual"? (Mas não é m-e-s-m-o!) "Os velhos amigos irão se abraçar"? (E as amizades que terminaram, estremeceram e os amigos distantes?) "Desconhecidos irão se falar"? Basta sair às ruas cheias de gente correndo e comprando para ver que os olhares nem sempre são amistosos: todo mundo é igual? "E quem for criança vai olhar pro céu"? Só as crianças? E... os outros, de todas as idades? "Fazer um pedido pro velho Noel"? Esse velho safado e tão diferente do original e que foi capturado pela mídia e pelo imaginário para transformar surpresas em desejos de consumo... está no céu? "Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia." Existe alegria e magia em diferentes situações da vida cotidiana e, mesmo em situações muito difíceis, é possível sentirmos alguma alegria e alguma magia: uma flor, uma gentileza de alguém (ou a nossa para alguém), uma clareza na comunicação; quando alguém cumpre com o que combina conosco, quando ouvimos uma música que gostamos, quando meditamos; quando o sol bate num cristal que está na janela e joga cores para dentro da nossa sala num abraço gostoso (real ou virtual-real), quando recebemos palavras e/ou atitudes de reconhecimento, de respeito, de solidariedade, de compreensão, de carinho; quando nos mostram que estamos errados e descobrimos outros jeitos de fazer ou dizer algo, quando nos deparamos com nossos "monstrinhos internos" e os superamos, quando conseguimos realizar algo que estava difícil... quando nos sobra dinheiro na conta; também quando aprendemos algo novo, como por exemplo, quando enviamos uma foto pelo Bluetooth (você já viu como é mágico e alegre-engraçado enviar uma foto para um (outro) aparelho que está perto de você..em segundos? Também... quando escrevemos o que pensamos e/ou o dizemos para alguém de forma a exercitar a independência e o livre arbítrio.. etc, etc e etc.
Para esclarecer: a música do Roupa Nova é bonitinha, tem belas rimas e arranjos vocais bem elaborados. Então, qual é o problema? O problema é aceitar tudo o que chega pela mídia sem exercitar -cotidiana e continuamente - o raciocínio crítico. O Natal que aprisiona os desejos e as liberdades não é o natal que eu quero e desejo: ter que... comprar presentes, ter que visitar pessoas, ter que... sorrir e ser amistoso (durante esse período), ter que conviver à mesa e nas festas com quem não se gosta (ou não se deseja naquele momento)... ter que, ter que, ter de... entrar em todas as sintonias e prescritos do Natal (oficial) este é o (são) o (s) problema (s). Só! Um outro exemplo, muito engraçado (dei gargalhadas no momento em que ele publica a foto do menino no Facebook) nos mostra como o Natal e o comportamento das pessoas está "na era" da comunicação digital.
Acima eu falei que você escolhe, que você decide. No entanto, se você está capturado pela mídia e pelos comportamentos prescritos do Natal Oficial... talvez você não tenha opção de escolha... a não ser... fazer o que (todos) esperam de você.
Então o meu desejo nesse Natal, é que você tenha um Feliz natal... esteja você onde estiver, faça o que fizer, desde que esteja e desde que faça... algo que está em sintonia com a sua consciência, com o seu modo de viver a vida e com o seu modo de ver-sentir a magia e as coisas belas da vida.
dos perigos iminentes, a angústia do dia seguinte.
Desejo mais ainda que
reavivemos a fortaleza da nossa Fé;
divulguemos o poder da nossa coragem;
mostremos quão forte é a luz que brilha
em nossos corações, apesar de certas
descrenças que flutuam no ar...
Merry Christmas every day!!!"
Junto com esse cartão, vieram muitos outros, menores,
tipo etiqueta, dos quais destaco um,
com as seguintes palavras:
Às nossas semelhanças
e às nossas diferenças!!!
Abração!
..............................................
Escuto, nessa época, no desempenho da minha profissão,
com muita frequencia... que o Natal é uma data
chata, triste, enfadonha (porque se repete "sempre do mesmo jeito").
É comum as pessoas se lembrarem de quem já não está
mais aqui e sentir...
saudade
abandono,
culpa
desejo de reparação
(e impossibilidade de fazê-lo),
capacidade de amar diminuída
(ou muito aumentada, causando estranheza),
dificuldades com o perdão,
revolta,
medos variados (dentre os quais o de sofrer nova perda,
seja pela morte, seja pela vida),
e, só para citar mais um...
desejo intenso de corresponder às expectativas
do outro associado a dúvidas quanto a consegui-lo
(sentimento de incapacidade e inadequação que fica
ainda mais forte pois vem acompanhado
de profunda sensação de solidão, já que nas festas de Natal
- aquilo que se repete e é sentido como
"sempre do mesmo jeito" -
não dá quase margem
à percepção das diferenças que se operaram
em cada um dos sujeitos ao longo
do último ano (desde o Natal passado).
Sendo o Natal uma data/ festa cristã
- e, portanto, religiosa -
todos os temas concernentes a essa temática vêm à tona:
questionamentos sobre a (própria) espiritualidade
(ou as ausência dela);
indagações sobre a própria capacidade
de se adequar (ou não) aos
preceitos, regras, ditames,
ritos de cada uma das práticas
católicas, evangélicas, espíritas... ;
inquietações e dúvidas sobre o que está fazendo da (própria) vida
e sobre qual o "lugar" que está ocupando no mundo
(de onde viemos,
o que estamos fazendo,
para onde vamos,
o que faremos), etc...
se fazem MAIS presentes.
Sendo o Natal uma data/festa social
- e portanto, de relacionamentos -
todos os temas concernentes a essa temática vêm à tona:
questionamentos, inquietações e dúvidas
sobre como estão os relacionamentos interpessoais,
amorosos, sociais, institucionais,
grupais, de vizinhança, de cidadania, de ecologia, de cuidados
com o planeta que habitamos, de cuidados com o outro
(qualquer outro) e de cuidados para consigo próprio, etc...
se fazem MAIS presentes.
Sendo o Natal uma data/festa comercial e midiática
- e portanto, diretamente vinculada ao dinheiro
e aos usos que dele fazemos -
todos os temas concernentes a essa temática vêm à tona:
compra e venda,
situação financeira,
papai noel e os presentes que vêm dele (ou não),
necessidade de retribuição com (quase sempre) desajuste
no equilíbrio entre dar e receber.
captura e aprisionamento pela mídia,
incremento do/no desejo de imagem
(qualquer imagem que se pode chamar de "parecer ser"),
questionamentos, inquietações e dúvidas sobre
quanto, como e porque se está sendo o "desejo do outro"
(qualquer outro, mídia incluída)...
ou se... se está caminhando para ser o autor
do próprio desejo,
da própria vida,
fazendo escolhas
permeadas
(onde o outro está INCLUÍDO)
- que se dão através e entre - o eu e o outro.
Sendo o Natal uma data/festa instituída
que se caracteriza pelos temas acima citados,
o meu desejo
para quem
estiver lendo
essa postagem
é que faça seu próprio natal
(em minúsculo mesmo)
acionando as forças desejantes e inventivas,
criativas de bem estar próprio,
sem a dependência do outro
(mas com a participação dele, se assim desejar)
e com grande esforço para não cair nas ciladas
enferrujadoras e enferrujantes das
próprias capacidades de decisão
e de fazer da própria vida uma obra de arte.
Construir o próprio natal, sentindo-se bem
na companhia (ou não) de
quem se realmente quer (estar junto),
sentindo-se à vontade com o próprio corpo
(e com alma, se se acredita nela. Eu acredito) com o ambiente e em sintonia com a vontade pessoal.
A isso eu chamaria de um feliz natal.
Um natal feliz.
É possível., mesmo!
Também somo a esse desejo, o de que
- em todos os dias, ou, pelo menos... com uma frequencia
muito maior do que a habitual -
você
- que está lendo essa postagem -
questione, se inquiete e busque
respostas para os temas que o Natal suscita, acessando as "coisas da vida" e dando a elas o seu tempo (para que não fiquem "MAIS " presentes no Natal afinal , a espiritualidade, os relacionamentos e a mídia estão presentes no nosso dia-a-dia) e para que fiquem com seu "status" de "vida das coisas".
Fazendo isso, diariamente... certamente o seu próximo
natal será melhor, mais livre e feliz.
Adicionar legenda
Assim,
faço minhas
as palavras
da pessoa
que enviou-me o cartão citado acima:
Merry Christmas every day!!! E que a luz brilhe no seu coração e na sua mente, com as bençãos do Mestre aniversariante.
antes sou gotas de mercúrio do termômetro quebrado,
líquido metal que se faz círculo cheio de si
e igual a si mesmo no centro e na superfície,
prata que tomba e não derrama,
liquidez sem umidade.
- Clarice Lispector -
Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram.
Foram levando qualquer coisa minha…
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas de Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
- Mario Quintana -
A poesia não está no papel,
Está na vida
Vista e sentida
Por olhos sensíveis
E corpos que se permitem ir além.
Por almas que ousam,
Interiores que gritam.
Ser poeta um dia é fácil,
Difícil é sê-lo sempre.
Fácil é amar,
Difícil é libertar a quem se ama...
Libertar as palavras que inflamam...
Mas mais difícil não é libertar
Nem amar, criar, ousar.
Difícil é ser.
Um ser contido no mundo
E conter o mundo dentro de si.
- Carolina Salcides -
”Viver de morte, morrer de
vida.”
(Heráclito de Éfeso)
“Viver de morte, morrer de vida.” Sim, é enigmático.
Podemos pensar que essa frase tem um primeiro sentido que seria este: para viver deve-se comer, logo, deve-se matar as plantas e os animais, logo, vive-se de morte. E finalmente, de tanto viver, desgastamo-nos e morre-se de viver.Mas é um sentido superficial.E creio que é hoje, vários séculos depois. que compreendemos a profundidade dessa frase. Por quê? Porque sabemos hoje que nossos organismos, o seu como o meu, vivem de moléculas que se degradam sem parar. Logo, nossas células reconstituem as moléculas que morrem. Mas nossas próprias células se degradam. Só nossas células cerebrais e algumas hepáticas permanecem as mesmas . As células de nosso corpo se transformam sem parar, morrem e renascem. O fato de podermos reconstituir nossas células faz com que possamos rejuvenescer. Efetivamente nossas células vivem da morte das moléculas, nossos organismos vivem da morte de nossas células. E diria mesmo que a sociedade vive da morte de seus indivíduos. Pois indivíduos novos aparecem, e eles recebem cultura e educação, e rejuvenesce a sociedade.Logo, vivemos de morte. E morremos de vida. Não no sentido em que nos desgastamos como um motor de carro, mas no sentido em que nos esgotamos a rejuvenescer. Cada batida de nosso coração envia o sangue para se “desintoxicar” em nossos pulmões e limpar todas as nossas células. Pode-se, portanto, dizer que você rejuvenesce sessenta vezes por minuto. Passamos nosso tempo a rejuvenescer. E finalmente, e é aqui que está a beleza da frase de Heráclito, rejuvenescer acaba por ser mortal. E morre-se de tanto rejuvenescer.
Assistir aos jogos olímpicos pode ser uma grande oportunidade de aprendizagem, especialmente se trazermos para o cotidiano e para a realidade de nós simples mortais o que os atletas e os medalhistas fizeram por lá.
Destaco duas cenas que me marcaram muito.
Cena 1: Epke Zonderland, o Holandês que ganhou a medalha de ouro na barra fixa, brilhantemente.
Aqui a final com os 8 classificados:
(É preciso seguir o link e assistir no YouTube porque o vídeo é do Comitê Olímpico Internacional
e possue direitos autorais...)
Vale à pena assistir; tem 32 minutos e é exuberante. De ótima qualidade.
A sul-coreana Lam Shin foi prejudicada pelo cronômetro, que teria parado ou tido uma pane e recusou-se a sair da área de combate. Ela fez um protesto silencioso e choroso pela injustiça, no melhor estilo Ghandi. Segundo uma tradição desse esporte, abandonar a área de combate é admitir e reconhecer a derrota.
Como ela poderia admitir reconhecer a derrota para a tecnologia?
Perder para um relógio?
Cenas 3. 4. 5 e adiante.... : As nossas (possíveis) aprendizagens
Um lindo paradoxo está colocado nessas duas cenas e que nos remete a pensar nas nossas vitórias e derrotas.
Antes de Epke conseguir essa performance nas barras, ele treinou anos - anos - e caiu - caiu - e errou incontáveis vezes...e nós nos incomodamos e nos irritamos quando uma coisinha não dá certo na primeira tentativa! Que espanto!
Para chegar a perfeição...precisamos de muitas - muitas -coisas.
Quantas derrotas ele teve? Quantas para o aparelho? E os tombos? E o desânimo que pode ter se apoderado dele nesses momentos?
Quantas vezes ele buscou forças, coragem, disciplina e seguiu adiante? Quantas?
Acho que nem ele próprio sabe.
E a Lam Shin?
Como estaria o estado psicológico dela naquele momento? Teria surtado? Teria "feito" uma crise depressiva?
Não importa: isso é secundário.
O que importa é a recusa em aceitar uma derrota desse tipo.
E protestar.
A capacidade de indignar-se com o que consideramos injusto e demonstrar esse sentimento é condição de existência e até mesmo de saúde.
Quantas vezes nos submetemos às injustiças e aos mal-tratos e nem sequer choramos (duros de orgulho, de falsa sensação de poder, de invulnerabilidade)? Engolimos em seco e fazemos de conta que não é conosco.
Atrasam as consultas, desrespeitam o trânsito, ligam-nos no final de semana para vender produtos... e...
e?
E querem nos fazer crer que a tecnologia tem SEMPRE razão.
Vínculos são prejudicados e grandes problemas ocorrem em decorrência de uma mensagem de texto não recebida dum celular (mas que o visor do aparelho do emitente garante ter sido enviada). Mas que o receptor não recebeu?
E os pagamentos que efetuamos e que não "constam no sistema"?
E as contas indevidas que nos são enviadas - e até cobradas - sem terem sido, jamais, os produtos a elas ligados, solicitadas?
Essa sul-coreana nos faz pensar sobre o que é derrota.
O que é derrota?
Terá sido ela derrotada? Pela máquina que supostamente falhou?
Ou terá sido ela derrotada pela complexidade que envolveu a cena? Complexidade que incluiu a tecnologia e os usos que se faz dela, os juízes, o tempo, a necessidade de definição "de quem afinal ganhou a luta" e seguir com as provas que estavam programadas...
Que derrota é essa, se ela se saiu tão vitoriosa na sua dignidade e na sua manifestação, a ponto de contagiar milhões de pessoas que ficaram solidárias a ela?
Oh sim: ela perdeu a medalha. E perdeu para a tecnologia.
Mas ganhou - e muito - em todos os outros sentidos.
Uma derrota que é uma derrota.
Uma derrota que é uma vitória (ou várias)!
E, voltando ao Epke:
Uma vitória que é uma vitória.
E... uma vitória que foi feita de muitas derrotas anteriores.
Um lindo paradoxo.
Meus parabéns para eles e meu muito obrigado por me fazerem (re)lembrar disso.
A identidade de amigo
é posta e reposta nos comportamentos e atitudes que vão sendo tomados pelos
atores sociais e afetivos dessa trama.
Tecido cuidadosamente tecido, vai sendo alinhavado e costurado com ações, afetos,
afinidades, respeitos. Intimidades: platôs de intensidade que são heterogêneos na sua convergência para o centro nuclear do vínculo.
Tem aqueles que são amigos (identidade configurada pela continuidade temporal e espacial).
Tem aqueles que estão amigos (característica configurada por variações - ao infinito - na "duração" têmporo-espacial).
Que diferença há entre uma e outra atitudes?
Nenhuma, a rigor, pois amigos (que têm a identidade de amigo) fazem e dizem coisas que não são DO amigo, mas da humanidade deles.
E tem pessoas que não tem a identidade de amigo, que fazem e dizem coisas que são de amigo (e, assim, não DO amigo).
Eu gosto de ambas, dos que são e dos que
estão amigos.
Atitudes e ações amigáveis não identitárias são fundamentais e até imprescindíveis para a mudança no e do mundo em que vivemos.
Amizade não tem idade.
Se dá no aqui-agora da intensidade.
É uma fatia da eternidade.
Enigma: Back to the rivers of believe
Therion: The siren of the woods
A todos que me consideram seu amigo
e a todos que eu considero meus amigos
o meu abração, neste e em todos os dias.
(Isto inclui os que tem identidade de amigo e
os que não a tem, mas que estiveram amigos com suas
O que se produz de novo nada é nos objetos, mas no espírito que os contempla, é uma ‘fusão’, uma ‘interpenetração’, uma ‘organização’, uma conservação do precedente que não desaparece quando o outro aparece, enfim, uma contração que se faz no espírito.” (DELEUZE, 1999, p. 115).
Minha homenagem ao rock no seu dia mundial vai com a banda Therion:
"Touring with Therion was different, 8-10 people on stage + 4-5 in the crew. Having our own bus is a good thing and having females around also kills some of the macho vibes."
(Mats Leven, vocalista da banda de 2004 a 2007)
No límpido ar do deserto, na escuridão de uma terra sem uma
única luz em centenas de
quilômetros à volta, tinha-se a impressão de que as estrelas
desciam até quase roçar
na areia, e Gacel frequentemente estendia a mão como se
realmente pudesse tocar, com as pontas dos dedos, aquelas bruxuleantes luzes.
À porta de sua tenda, a maior e mais confortável do
acampamento, ele se detinha uns instantes para escutar. Se o vento não tinha
ainda começado a chorar, o silêncio chegava a ser tão denso que machucava os ouvidos.
Gacel amava esse silêncio.
No Saara cada homem tinha o tempo, a paz e a atmosfera
necessários para se encontrar a si mesmo, olhar para a distância ou para o seu
interior, estudar a natureza que o cercava e meditar sobre o que não conhecia
senão através dos livros sagrados. Mas lá, nas cidades, nos
povoados e inclusive nos minúsculos vilarejos berberes, não
havia paz, nem tempo,, nem espaço, e tudo era um tumulto de ruídos e problemas
alheios, com vozes e brisas de estranhos, a ponto de causar a impressão de que
era muito mais importante o que acontecia aos outros que à gente mesmo.
Não houve crepúsculo; o céu passou, quase sem transição, do
vermelho ao negro, e logo brilharam a s luzes dos lampiões.
Agradeceu, mais tarde, pela saída da lua, que iluminou o seu
caminho. À meia-noite, distinguiu a distância o prateado reflexo... um grande
lago salgado que se abria diante dele, como um mar petrificado, e do qual não
conseguia ver a outra margem.
Muitíssimos anos atrás, quando o Saara era um grande mar que
se retirou, a água ficou aprisionada em milhares de buracos semelhantes, onde
mais tarde se evaporou lentamente, amontoando no fundo uma capa de sal, que, no
seu centro, chegava a ter vários metros de expessura. Não era raro que correntes
subterrâneas de águas salitrosas os alimentássem também quando chovia. Desse
modo, perto das margens formava-se uma zona de areia úmida e salobra, pastosa,
que o sol queimava até converter em uma crosta endurecida... Essa crosta oferecia
o perigo de se rachar a qualquer momento, lançando o viajante a uma pasta que
lem,brava manteiga semiderretida e que o engolia em poucos minutos. Era mais
perigosa ainda que o traidor fesh-fesh (areia movediça), o solo arenoso, sem
apoio, onde, subitamente, homem e camelo desapareciam como se nunca tivessem
existido.
"Os tuareg espetam as estrelas com suas lanças para,
com elas, iluminar os caminhos..." Um belo ditado do deserto, ,nada mais
que uma frase, mas quem a inventou conhecia bem aquelas noites e
aquelas estrelas, e sabia também o que significava
contemplá-las horas a fio, de
tão perto.
Três coisas o fascinavam desde criança, o fogo, o mar
arrebentando contra as rochas e as estrelas em um céu sem nuvens. Olhando o
fogo, esquecia-se de pensar; olhando o mar, afundava nas lembranças da
infância; contemplando a noite, senti-se em paz consigo mesmo, com o passado, o
presente e até quase em paz com seu próprio futuro.
O eterno vento do deserto tinha varrido seus cumes durante
milhões de anos, despojando-os de todo rastro de terra, areia ou vegetação, e
sua aparência era a de uma infinita rocha nua, reluzente, castigada pelo sol e
fraturada pelas brutais diferenças de temperatura entre o dia e a noite. Os
viajantes, que em algum tempo haviam atravessado aquelas montanhas, garantiam
que nos amanheceres se ouviam vozes, gritos e lamentos, embora se tratasse, na
realidade, do estalido das pedras aquecidas, quando a temperatura baixava
bruscamente.
"As palmeiras amam ter a cabeça no fogo e os pés na
água", garantia um, velho provérbio. Diante dos olhos dele, a plena confirmação:
estendendo-se até quase se perderem de vista, levantavam seus penachos ao céu
mais de vinte mil palmeiras, sem se importarem com o calor
escaldante, porque suas raízes se afundavam firmemente na
água clara e fresca de cem mananciais e inumeráveis poços.
O calor opressivo
afundou-o em uma sonolência inquieta, num arremedo de sono, do qual despertou
sobressaltado, mas sobressaltado por aquele mesmo silêncio, aquela quietude e
aquela angustiante sensação de vazio, suando abundantemente e sentindo uma
quase dor nos ouvidos, como se o tivessem afundado, de repente, em um universo
oco, até o ponto em que murmurou algumas palavras, com o único objetivo de escutar
a si mesmo e comprovar que ainda existiam sons na terra.
Era outras a luzes, mas não outras as sombras, uma vez que
não havia objeto algum capaz de projetar a menor sombra sobre a branca planície
ilimitada. As últimas dunas morriam mansamente, como línguas sedentas ou como
longas ondas de um mar sem força sobre uma praia sem fundo, caprichosa
fronteira que a natureza se impusera sem razão aparente, sem
explicar a ninguém porque ali acabava a areia ou porque
começava a planície.
Insh"Allah!
Porque teria querido Deus, capaz de tudo imaginar, plasmar
ali, de maneira tão
flagrante, a realidade do mais absoluto dos nadas?
Tinha razão Gacel, e o vento acabava no limite mesmo das dunas,
para dar passagem a um ambiente rarefeito, onde em menos de cem metros a
temperatura aumentava quinze graus, como uma bofetada de ar quente, que impelia
o caminhante a retroceder em busca da doce proteção do mar de areia que, até aquele
momento, parecia insuportável.
O tuareg era o único povo, dentre todos os povos islâmicos,
que, embora seguindo fielmente os ensinamentos de Maomé, apregoava a igualdade
dos sexos,e as mulheres deles não apenas jamais havia coberto o rosto com um
véu - à diferença dos homens - , como gozavam de absoluta liberdade até o
momento de se casarem, sem a obrigação de prestar contas de seus atos nem aos
pais, nem ao futuro esposo, que, geralmente, era escolhido por elas, atendendo
seus sentimentos.
Eram famosas no deserto as "Festas de Solteiros"
dos tuareg, os Ahal, quando rapazes e moças se juntavam para cear à luz do
fogo, para contar histórias e tocar o amzad de uma só corda, dançando em grupos
até altas horas da madrugada.
Então as mulheres tomavam a palma das mãos dos homens que
queria e traçavam sobre ela
desenhos cujo significado só os de sua raça conheciam,
indicando o tipo de ato de amor que desejavam para aquela noite.
E, seguida, cada casal se perdia na escuridão, para buscar
nas dunas, sobre a macia areia e a
branca gandurah estendida sobre ela, a satisfação dos desejos manifestados
na palma da mão escolhida.
Para um árabe tradicional, zeloso da virgindade daquela que
haveria de ser sua esposa, ou da honra da filha, tais costumes excediam os
limites do simples escândalo, e Abdul sabia de países, como a Arábia e a Líbia,
e regiões de sua própria pátria, onde, por muitíssimo menos, se apedrejava ou
cortava a cabeça dos culpados.
"... Vejam como as lutas e as guerras a nada conduzem,
porque os mortos de uma lado com os mortos do outro se pagam..." Sempre os
ensinamentos do velho Suílem; sempre à volta a mesma história, porque a realidade
era que podiam mudar os séculos e, inclusive, as paisagens, mas os homens continuavam
sendo os mesmos, e se convertiam afinal nos únicos protagonistas da mesma tragédia
mil vezes repetida, por mais que variassem o tempo e o espaço.
Pode demorar um pouco para abrir completamente. Há muitas imagens, links e postagem longas. É preciso ter paciência, algo incomum na sociedade individualista, veloz e de consumo.
Aqui as informações não estão para serem consumidas; antes disso, estão para serem tratadas como... pequenas jóias de beleza, pedras de conhecimento, assopros de sabedoria, vindos de muitos mestres. Mestres filósofos. Mestres orientais. Mestres anônimos. Mestres cientistas. Mestres espirituais e espiritualistas. Mestres sem classificação.
Pequenas tentativas de transformar este mundo num- mundo-melhor-para-vivermos: a cada dia renovado, inventado, criado, produzido! Gosto de conversas... de concordâncias e discordâncias. Considero a divergência fundamentada bastante saudável! Neste menu da direita, mais abaixo e nos comentários das postagens, você encontra lugar-espaço para trazer suas opiniões. Seja bem vindo !
Sobre esse blog
"Psicologia e Vida Livres", um nome estranho, o desse Blog, já que não existe liberdade, nem na Psicologia e nem na Vida.
O que existe são LIBERDADES! Cada uma delas na dependência de várias coisas, simples e complexas, mas ainda assim, na dependência de algo, ou de alguém!
Então... nessa dialógica da liberdade e da prisão, ou melhor dito, das liberdades e das prisões... vou tentando postar sobre "As Coisas da Vida e da Vida das Coisas".
Minhas lentes e meus olhares são composições híbridas que se criam através do cruzamento, do choque, da colisão de linhas transversais entre a esquizoanálise, a poesia, a história, a filosofia, o cotidiano, a política, a vida, a morte e as artes em geral.
Que Coisas da Vida?
Estas que pegamos na mão e dizemos:
- "É assim."
- "Está assim."
Aquelas que não conseguimos pegar na mão e ... dizer... "é ou está assim."
Estas que tem início, meio e fim. O que é previsível, esperado e "natural".
Estas em que sabemos só o início; só o meio; só o fim.
Aquelas que são inesperadas, inusitadas, imprevisíveis, incontroláveis e indizíveis.
Estas e aquelas que são simples e estas e aquelas que são complexas.
Que Vida das Coisas?
Tudo aquilo que tem um fim, que termina, que acaba, que morre, que se transforma num algo-outro e diferente.
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Sou honestamente ácido e docemente acolhedor.
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Aprecio conversas intimistas, profundas (e sem fundo!) que levam ao descobrimento das leis que regem as relações entre o simples e o complexo.
Amo as verdades de cunho perene, absoluto... e seus desdobramentos relativos.
Gosto e respeito pessoas afirmativas, posicionadas... e me seduzo facilmente pelo mistério e pelo indefinido... delas e das situações.
Busco viver intensamente os momentos... mesmo que isso signifique, eventualmente... não fazer nada e ficar imóvel, numa pura contemplação!
Sou instável, muito instável... dentro dessa minha estabilidade: tenho aspirações ao absoluto, embora esteja, mais freqüentemente, vivendo as relatividades. (Cerriky - Cesar Ricardo Koefender)
Eu no que sei sobre...
Sou um sujeito simples, que aprecia as coisas simples e as pessoas simples... embora transite frequentemente nas complexidades... num emaranhado de eus múltiplos: amo a liberdade de expressão e cultuo a informalidade... sou avesso às relações amarradas que amputam as possibilidades de exercício do expontâneo e do singular. (Cerriky - Cesar Ricardo Koefender)
Mais sobre mim
Procuro melhorar a cada dia minha condição de ser humano e espiritual: estou em constante crise... cheio de questionamentos nessa busca: como acionar um "devir espiritual" e para ele criar um corpo de expressão?
A busca e o progresso são inconstantes, seguros, incertos, instáveis e impermanentes, mas nem por isso, menos verdadeiros: descobrir acerca de si próprio e se relacionar com as pessoas constitui-se numa das mais difíceis tarefas da vida: sigamos em frente... sempre!!! (Cerriky - Cesar Ricardo Koefender)
Tempero da Vida
Amor, amor, amor!!! E todos os seus derivativos, sobrepostos, superpostos, laterais e coadjuvantes!!!
JORGE DE LIMA (1895-1953)
-
E tudo haveria de ser assim, para contemplar-te sereno, ó morte,
e integrar-me nos teus mistérios e nos teus milagres.
Agora vejo os Lázaros levantarem-se
e...
eclipse lunar penumbral 25/03/2024
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eclipse lunar perspectiva da astrologia contemporânea e da védica“Quem
está insatisfeito na Terra também ficaria em outras dimensões”.(Anna Maria
Costa Ri...
só existe porque há luz... e é proporcional a ela!
Akenaton
Meu faraó preferido! Um herege... precursor.
Vishnu
deus hinduísta: o conservador
Nome da imagem: observors
Observar é agir... inter-agir
Saudação Sikh
Om
Palavra sagrada do Hinduismo
Mais rosas...
"de todas" as cores!
Prece
No espiritismo, ela pode ser feita em qualquer lugar: é uma "conversa" íntima e direta!
Brahma Trimurti
deus hinduísta: o criador
Mesquita
Templo Sagrado do Islamismo
Tempestade e
Intempestivo
Livros: referencias teóricas e estéticas
A cabeça bem-feita
A Interpretação dos Sonhos v 1 e 2
As Gandes Questões do Nosso Tempo
As Três Ecologias
Bergsonismo
Bergsonismo
Caosmose
Compêndio de Análise Institucional e outras correntes
Compêndio de Psiquiatria Dinâmica
Crítica e Clínica
Figuras da Imanência
Gilles Deleuze: uma vida filosófica
Humano, Demasiado Humano
Infância e Sociedade
Introdução à Esquizoanálise
Mal estar na Cililização
Micropolítica Cartografias do desejo
Mil Platôs v. 1 a 4
O Anti-Édipo
O brincar e a realidade
O Inconsciente Institucional
O Método v. 1a 5
O Paradigma Perdido
O que é Filosofia?
O tempo não-reconciliado
Processo grupal
Psicopatologia da vida cotidiana
Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo
Teoria do Vínculo
Vontade de Potência parte 1 e 2
Taoismo:Yin e Yang
Opostos complementares
Yoga: respiração e ásanas
Pratica do Hinduismo
Ioga
Anahata Chakra
Shiva Nataraja
deus hinduísta: o destruidor-renovador
Os dez gurus do sikhismo
Da pomba ao falcão: guerreiros da fé
Krishna
avatar de Vishnu, é o Cristo do hinduísmo
Uma pequena grande jornada...
pelo deserto de Thar, na fronteira com o Paquistão.
Bela imagem...
a do amor de um deus: Shiva nesse caso, o que destrói e cria... mundos
Eu acredito que há vida em outros planetas... e você?
Claro... não precisam ser etezinhos assim né?
Ganesh
deus hinduísta da prosperidade e do sucesso
A dark and sensual lady...
uffa.
O que é clássico
tem seu valor
Astral Candle (Wilby)
... é o nome dessa imagem
O fogo queima...
limpa, purifica, aquece.
Floresta mágica
Todas as crianças acreditam...
Trigo - produção > de todos os tipos
Intelectuais, Alimentícias, Éticas, Íntimas
Tons escuros...
eu também gosto!
Beleza escura
A noite é... mágica
Em todo deserto há...
vida! Dentro de nós também.
Mais fractal
animation gif
Meditar é preciso!
Energia pura!
Jesus Cristo, o rabi
Mestre do Cristianismo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei
Tempo, horas. Que tempo? Quanto tempo?
O tempo ... é marcado no relógio e fora dele.Há tempos e tempos: para cada coisa, um tempo.Para muitas coisas, o mesmo tempo. Divagações improdutivas acerca das horas.
Alegria e humor...
trazem renovação.
Não adianta nada...
mas acontece... rsrsrrss
Se tem a tulipa negra...
tem a rosa negra também.
Incenso: adoro...
... todos os aromas. Florais, cítricos, amadeirados, de ervas, adocicados, misturas e aromas criados. Beleza, suavidade e simbolismo... energias renovadas.
Prece
Você faz a sua; eu faço a minha... e o mundo fica melhor!
Música e Musicalidades
Arte e Vida!
Bom humor, capacidade de se espantar e rir das coisas...
é um dos sinônimos de inteligência racional e emocional
Padmine incense
made in India
Bebê...
que lindo sorriso.
Cores
e aromas
Ursinhos, pelúcias: crianças, amigos, carinho...
afetos, aconchegos: é tão bom!!!
Ler, leitura:
é descobrir, se espantar, viajar... prazer!
Um... druida
diz algo a você?
Relaxar...
e ficar entregue... é tão bom!
Parte...
Todo...
Lótus
a flor sagrada do oriente
Lindos olhos dessa mulher indiana
... em Nova Delhi.
Fractal...
torcido, girado...
O ser humano...
... é um enigma bárbaro. Um bárbaro mistério...
De "saia" na mesquita...
Jama Majid, em Delhi.
Eu no Nepal
com a inseparável coca-cola
Contrastes
em tons terra
Simboliza tudo o que
... é adorável e lindo!
Vamos lá...
escreva um email ou um scrap para mim
Anjos... existem.
Você acredita?
De gênio, médico e louco...
... trodo mundo tem um pouco! Pouco?
Fênix
re-pós-surgir das cinzas ... sempre
Chakras e suas cores
Meditar é legal!
Idas...
caminhando pra frente
E vindas...
Vontando e ... seguindo em frente novamente: assim são as aprendizagens!