04 junho, 2012

Sobre a beleza do movimento e da inércia e um "Contraponto!", por João F. L. Melgrejo



Existe uma beleza do movimento.
E uma beleza em movimento.

Não sei diferenciar uma da outra em palavras, mas são exemplos:
- O movimento sempre igual sempre diferente das ondas do mar.
- Aquele jeito de mexer a cabeça. De caminhar. De sorrir. De chorar. De correr. De se levantar...
- Um jeito de cruzar ou descruzar as pernas (Sheron Stone o mostrou, mas não só ela!).
- Um movimento furtivo (ou até mesmo premeditado) de ajeitar os cabelos...
- Passar baton e creme nas mãos.
- Levantar o braço para receber a bola (num passe).
- Aquele movimento dos cílios, alongados ou não, de homens e de mulheres, 
ao abrir/fechar/mover os olhos.
E também nas Drag Queens.
- A fumaça do incenso que se mescla à chama da vela 
(ou que se movimenta livremente ao sabor do movimento do ar...)
- O vôo de um pássaro.
- As metamorfoses do dia em noite e da noite em dia. 
- As cortinas e os tecidos (calças, vestidos, saias, bermudas, lenços, echarpes e mantas)
que (se) balançam ou se rossam...
- O balançar das folhas nas árvores.
- O pulo do gato.

Enfim, tem uma infinidade.

Existe, também, uma beleza da inércia  (extremamente bem retratada no poema abaixo), momento em que se deseja que  aquilo dure para sempre, que se congele e que fique perene ao sabor do nosso (desejo de) olhar.

São exemplos:
- Aquela pintinha no pescoço que só aparece naquele ângulo de inclinação da cabeça.
- Aquele jeito (de alguém muito especial) colocar seu corpo enquanto dorme.
- O olhar perdido no tempo e no espaço, olhando para nada ou para dentro.
- Um jeito de cair sobre a grama - de exaustão, ou frustração - e ficar absolutamente imóvel, por segundos ou minutos... para se recuperar e... se integrando completamente à natureza circundante.
- A expressão dos olhos E do olhar que não entendeu e interroga.
- A expressão dos olhos E do olhar que entendeu tudo e nada comenta.
- A imobilidade quieta na meditação.
- A aparente imobilidade e quietude da natureza antes da chuva.
- A expressão do rosto imóvel que tenta não demonstrar o que está sentido 
(uma máscara de seriedade e indiferença estudadas que nada mais é do que "estar muito afetado" 
(pelo acontecido/acontecimento).
- A curva da nádega, acompanhando a perna que está levantada.
- A expressão indecifrável, incógnita e indizível que assumem alguns rostos... 
- N outras expressões afetivas inclassificáveis (e também muitas classificáveis).
- A expressão que alguns rostos exprimem ao experimentar a paz.
- Um quadro que nos toca  nos remete a... universos.







Contraponto! 

Não!
Por favor
Não ria
Não se mova
Não vire
Não estrague
Este momento!

Você
É o poema
Que estou
Lendo!

João Fernandes Lucho Melgrejo


Um comentário:

Kátia disse...

Lindíssimas palavras!
A beleza em seu reino, dearest Cesar, é espantosamente multidimensional.
Esse seu movimento em direção ao outro é profundo, extenso... perfuma, colore e arrebata.
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