15 março, 2013

FRIEDRICH W. NIETZSCHE sobre como filosofar com o martelo (fragmentos)





"Conservar a serenidade em meio a uma causa sombria e
justificável além de toda medida não constitui certamente uma
arte que se possa desconsiderar: e todavia o que haveria de mais
necessário que a serenidade? Nada triunfa a menos que a
petulância tenha sua participação.

Colocar aqui questões com
o martelo e ouvir talvez como resposta esse famoso som oco
que fala de entranhas insufladas — que arrebatamento para
alguém que, atrás dos ouvidos, possui outros ouvidos ainda —
para mim, velho psicólogo e apanhador de ratos chega a fazer
falar o que justamente desejaria permanecer mudo..."

FRIEDRICH W. NIETZSCHE, Em


Turim, 30 de setembro de 1888,
dia em que foi terminado o primeiro livro de
A Transmutação de todos os valores

(Prefácio de Crepúsculo dos Ídolos

ou
Como filosofar com o martelo)

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"Para viver só é necessário ser um animal ou então um deus —
afirma Aristóteles. Falta o terceiro caso: é necessário ser um e
outro, é necessário ser — filósofo...


"Toda verdade é simples." — Não existe ai uma dupla
mentira?


Se se possui o por quê da vida, põe-se de lado quase todos os
como?...


Aquele que não sabe pôr sua vontade nas coisas quer ao
menos atribuir-lhes um sentido: o que o faz acreditar que já
existe uma vontade nelas (Principio da "fé").


Nós imoralistas prejudicamos a virtude? — Tanto quanto os
anarquistas prejudicam os príncipes. Só depois de terem sido
atingidos de novo se sentam firmemente nos seus tronos.
Moral: é preciso disparar contra a moral.


Que importa que eu tenha a razão! Disponho de excesso de
razão. — E ri melhor hoje quem ri por último.


Mas Heráclito sempre terá
razão quanto ao fato de que o Ser é uma ficção vazia.


Suprimimos o mundo verdadeiro: que mundo nos resta? O mundo aparente, talvez?... Mas não! Com
o mundo verdadeiro suprimimos também o aparente!
(Meio-dia; instante da sombra mais curta; fim do erro mais longo; ponto culminante da humanidade;
INCIPIT ZARATUSTRA - Começa Zaratustra.)


Outrora, em virtude da estupidez na paixão, combatia-se a própria paixão: conjuravase

para a sua aniquilação.
...

Aniquilar os sofrimentos e os
desejos, apenas para evitar sua estupidez e as conseqüências desagradáveis de sua estupidez, se nos
apresenta hoje como sendo mesmo apenas uma forma aguda desta última.


Uma nova criação
sobretudo, algo como um novo império, tem os inimigos como mais necessários do que os amigos:
somente na oposição ele se sente necessário, somente na oposição ele se torna necessário... Nós não nos
comportamos de modo diverso frente ao "inimigo interior": também aí espiritualizamos a inimizade,
também aí compreendemos seu valor. É preciso ser rico em oposições, e só pagando esse preço que se é
fecundo; só se permanece jovem sob a pressuposição de que a alma não se espreguiça, não anseia pela
paz... Nada nos parece mais estranho do que o que era desejável outrora, o que era desejável para o
cristão: a "paz da alma". Nada nos deixa menos invejosos do que a vaca moral e a felicidade balofa da
boa consciência. Renunciou-se à vida grandiosa quando se renunciou à guerra: Em muitos casos, por
sorte, a "paz da alma" é apenas um mal-entendido, - algo diverso que apenas não sabe se denominar de
um modo mais honroso. Sem rodeios e preconceitos, aqui temos alguns casos. A "paz da alma" pode
ser, por exemplo, a irradiação suave de uma animalidade rica no interior do campo moral (ou religioso).
Ou o começo da fadiga, a primeira sombra que a noite lança, qualquer tipo de noite. Ou um sinal de que
o ar está úmido, de que o vento sul se aproxima. Ou a gratidão inconsciente por uma digestão feliz (às
vezes chamada "amor aos homens"). Ou a aquietação do convalescente, para o qual todas as coisas
possuem um novo sabor, e que espera... Ou o estado que segue a um intenso apaziguamento de nossa
paixão dominante, o bem-estar de uma saciedade rara. Ou a senilidade de nossa vontade, de nossos
desejos, de nossos vícios. Ou a preguiça, convencida pela vaidade a adornar-se moralmente. Ou a
entrada em cena de uma certeza, mesmo de uma certeza terrível, depois da tensão e do martírio
produzidos pela incerteza. Ou a expressão da maturidade e do domínio em meio ao agir, criar, efetivar,
querer, o respirar tranqüilo, a "Liberdade da Vontade" alcançada... Crepúsculo dos Ídolos: quem sabe?
Talvez também apenas um tipo de "Paz da Alma"...


O erro oriundo da confusão entre causa e conseqüência.
- Não há nenhum erro mais perigoso do que confundir a conseqüência com a causa: eu o denomino a
própria perversão da razão."


FRIEDRICH W. NIETZSCHE, Em
Crepúsculo dos Ídolos

ou
Como filosofar com o martelo